
A SOMBRA DE UMA GRANDE PERSONALIDADE
por Beto Besant
Talvez os mais jovens não tenham tanta ideia da força que o nome Gorbachev representa na história. Mesmo para quem é avesso a política - como eu - era impossível não ter certa curiosidade sobre aquela figura séria e poderosa, com a famosa mancha roxa na testa.

O documentário dirigido pelo ucraniano Vitaly Mansky, inicialmente causa uma surpresa. A imagem do político comunista envelhecido e com sérias debilidades físicas fazem parecer um ator encenando, até que, como o decorrer dos depoimentos vamos tendo a certeza de que trata-se do próprio revolucionário soviético.
O filme apresenta o político - que até hoje se identifica com o Comunismo - vivendo em uma bela casa de dois andares e locomovendo-se com um andador, sempre ajudado por um enfermeiro muito discreto que se comporta como se fosse apenas um amigo. As dificuldades de locomoção são tantas, que o líder utiliza-se de um elevador pra ir de um piso ao outro. Presente dado por amigos ao ficarem sabendo que ele levou uma hora para subir as escadas, certa vez.
Segundo o biografado, ele vive com o dinheiro que juntou em palestras dadas pelo mundo. E, se considerarmos a região que mora, vive muito bem. Em sua enorme e confortável casa, cercado de funcionários diversos, com um belo carro com motorista e uma chef de cozinha que prepara suas refeições. Fica até difícil acreditar que tudo venha de antigas palestras, uma vez que a abertura do mercado russo - a chamada Perestroika - ao mundo favoreceu a muita gente poderosa, rendeu muito dinheiro, e deve ter lhe gerado muitos "presentes".

É comovente ver como aquele idoso tão poderoso - e com um nome tão forte que sempre estará marcado na história do planeta - seja ainda tão apaixonado por sua mulher Raíssa, falecida em 1999. Apesar de toda a experiência do diretor - com mais de 30 filmes no currículo -, Gorbachev.céu não revela muita coisa. Além das limitações físicas e paixão por Raíssa, Gorbachev não revela muita coisa. Mostra-se um velhinho ranzinza, por vezes engraçado e por vezes tentando fazer graça, sem conseguir. Se declara o único comunista autêntico da União Soviética e suas decepções com Stalin, mas entra em muitas contradições, chegando a entrar em embates com Mansky. Um dos poucos momentos interessantes é quando ele revela seu lado humano ao nÕ executar seus traidores, como tradicionalmente fazem os líderes russos, enquanto, ao fundo, a TV mostra a imagem de Vladimir Putin.
O filme tem um problema de ritmo, seus 100 minutos - somados à fala lenta e subjetiva do entrevistado - o tornam arrastado. Vale pela curiosidade de ouvir o que pensa alguém de tamanha importância à história do planeta, mas frustra ao não conseguir revelar muita coisa.
O filme pode ser visto no Festival É Tudo Verdade, de 8 a 18 de abril clicando AQUI.
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