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CONSPIRAÇÃO E PODER (Truth)


"Conspiração e Poder" mostra que não é só no Brasil que entregar os podres do governo é prejudicial

Numa época em que vemos diariamente jornalistas investigativos sérios serem caluniados por dizerem "verdades inconvenientes", Conspiração e Poder apresenta as consequências de se mexer com o homem mais poderoso do mundo.



Roteirista de sucesso, James Vanderbilt (Zodíaco, 2007 e O Espetacular Homem-Aranha, 2012) estreia na direção e assina a adaptação do livro True and Duty (Verdade e Dever) escrito pela jornalista Mary Mapes, que conta a história real em que ela esteve envolvida em 2004.


Na trama, a jornalista - interpretada brilhantemente por Cate Blanchet - é produtora da emissora de televisão CBS - e logo após denunciar os maus tratos a presidiários de Abu Ghraib - descobre indícios de que o então candidato à reeleição George W. Bush teria recebido privilégios na época em que foi aviador da aeronáutica americana.

Produtora do consagrado programa norteamericano 60 minutes - então apresentado pelo lendário Bob Woodward (Robert Redford) - decide apurar a história lutando contra todas as pressões: agilidade (por conta de perderem o "furo" para outra emissora), resistência das testemunhas (por ir contra o interesse de pessoas muito influentes) e principalmente lidar com gente poderosa, uma vez que a reportagem pode mudar o rumo das eleições presidenciais.



Mesmo acusado de "didático" por alguns, o filme consegue colocar o público a par de toda a apuração e consegue prender a atenção durante seus 121 minutos - mérito de Vanderbilt.


O diretor também tem o mérito de escalar um elenco impecável e deixá-los afinadíssimos, principalmente a dupla protagonista Redford e Blanchet. Apesar disso, Cate tem um desempenho magistral, ofuscando seus bons companheiros de set, principalmente Robert Redford.


O maior problema do filme é a trilha-sonora incessante - com "cara" de blockbuster - que fica o tempo todo com nipe de madeiras (como oboé e fagote) e traz um clima épico, grandiloquente, como se preparasse para um grand finalle, com direito a imagem da bandeira americana e tudo.


Essa característica - vista em algumas telenovelas - talvez até ajude a falsear um drama (não tão presente na tela) e arregimentar o interesse do público médio, mas para quem tem um pouco de atenção à trilha, torna-se algo cansativo, exaustivo. Como diz o dito popular: menos é mais.


Uma virtude do roteiro e direção é não deixar claro se a denúncia é real ou mera especulação. Por isso, faz mais sentido a tradução do que o título original Truth (Verdade). Provavelmente por ser uma menção ao nome do livro e tentar "abocanhar" seus leitores.

Numa época em que o politicamente correto domina as discussões sobre a TV e cinema no Brasil, é elucidativo e necessário assistirmos a um filme como este, que denuncia o ex-presidente Bush sem cerimônia, apresentando seu nome, imagens e possíveis ligações de sua família com a família Bin Laden.


Sem querer contar mais da trama, Conspiração e Poder mostra o que pode acontecer com jornalistas que desafiam o status quo e denunciam aquela que é considerada uma das cinco famílias que dominam o mundo há décadas.


Em tempos onde vemos jornalistas, juízes e ministros terem seus nomes jogados "na lama" - apenas por fazerem seu trabalho dignamente - este filme é quase uma obrigação de ser visto por quem faz cinema e também por quem é apenas espectador.


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