Uma aula de cinema íntimo
Chantal Akerman é uma cineasta autoral, sempre criando filmes particulares e experimentais, quase como se olhássemos direto na sua mente tão espetacular. Contudo, alguém tão talentosa não se encontra mais entre nós - um triste fato que só é ressaltado caso você pesquise - talvez seja o maior mérito de Não Pertenço a Lugar Algum: celebrar a vida de Chantal Akerman.
O documentário é um olhar objetivo, passa por sua inspiração e vida como artista. Uma aula de como pode-se explorar a alma humana quadro a quadro, viajando entre décadas, onde cinema ganhava cor, estrutura, com Chantal conseguindo lapidar sua arte nas câmeras de forma tão intima e totalmente transparente para seu público.
Admito que fui pego desprevenido na sala de cinema, me envolvendo emocionalmente com o filme, e não consigo dizer como crítico se o ritmo é ruim, se a fotografia é boa, se o conjunto de cenas consegue contar uma história coesa. Este não é o objetivo do documentário, que se define como uma aula de cinema, tendo como afirmação despir artisticamente as películas dessa genial cineasta, alcançando com sucesso o objetivo.
O filme foca nos traços únicos da sua filmografia, sendo contagiante a alegria de criar arte. Dos tantos cineastas que ela inspirou e foi inspirada, o documentário não é feito para o grande público, apenas os apaixonados por cinema vão saber degustar essa obra linda e distinta.
Um cinema cru e elegante, deixando o expectador explorar as curvas do seu cinema, entregando a intimidade complexa dos personagens. Triste saber que essa pessoa de tamanho talento não se encontra mais entre nós. É uma perda significativa, triste saber que - como tantos outros - sua arte só é reconhecida após sua morte. Porém, o documentário celebra a vida apaixonada pela sétima arte, que Chantal deixou para os amantes de cinema, como você e eu.