
A água vem do espaço, cria a vida, alimenta e serve de rota para povos indígenas da Patagônia e navegadores estrangeiros, forma a fronteira mais longa do Chile e é cemitério de “desaparecidos” do regime de Pinochet. Os oceanos contêm história e memória, podem também ter voz. O botão de pérola encontrado no fundo do mar é uma dessas vozes eloquentes.

O filme de Patricio Guzmán, um dos maiores documentaristas da atualidade, é extraordinariamente bem construído, de uma beleza plástica incontestável e não deixa um fio solto. Todos os elementos levantados são muito bem amarrados e integrados num todo não só compreensível como inovador, surpreendente, até.
No cinema contemporâneo, a gente admite micro histórias, excertos, fios narrativos, ideias soltas ou sugeridas. É um caminho alternativo. Mas quando se vê um filme tão bem planejado e realizado como O BOTÃO DE PÉROLA, fica evidente a superioridade de um produto estruturalmente completo. Trata-se de um documentário astronômico, etnológico, histórico, geográfico e político, que nos dá uma dimensão ampla e abrangente do Chile, em múltiplos aspectos do país.

Apenas para lembrar, é de Patricio Guzmán a trilogia A BATALHA DO CHILE, de 1975, 1977 e 1979, e o espetacular NOSTALGIA DA LUZ, de 2010. Com O BOTÃO DE PÉROLA, ele reafirma sua capacidade de construir obras complexas, plasticamente arrebatadoras, que são verdadeiras maravilhas do cinema documental.