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NÓS OU NADA EM PARIS (Nous Trois ou rien)


Uma busca sem fronteiras

Discutir ou meramente conversar sobre política é como mexer em um vespeiro, retratar um tema que contém inúmeras vertentes ideológicas sociais, fatos históricos, religiosos ou até mesmo um marco do cenário político mundial como um pós-guerra leva aos seus idealizadores a uma situação cautelosa de pesquisa, produção e finalização.


Nós ou nada em Paris utiliza tons de leveza e comédia para explicitar jogos de poder, violência, perseguição e sobretudo patriotismo em um Irã conturbado por revoluções e à margem de possíveis guerras santas ao redor do mundo. Produção indicada ao prêmio Cesar de melhor Primeiro Filme - um equivalente ao Oscar.


Kheiron (Grandes Garotos, 2013) assina a direção e protagoniza a realidade fidelíssima do personagem Hibat, jovem iraniano idealista de família humilde e numerosa que através de sua perspicácia e inteligência torna-se um visionário ativista político engajado com a mudança de regime de seu país. Ele e seus companheiros tornam-se presos políticos por não aceitarem o regime vigente do Xá Reza Pahlevi (Alexandre Astier, Rindo à Toa, 2008), que além de seguir costumes ocidentais rege um governo autoritário. Quando são liberados - após uma década - por movimentações políticas, surge a tomada de poder do Xiita teocrático que determina a morte ou o exílio a quem não aceite o novo governo. Nesse interin, Hibat se apaixona por uma ativista interpretada por Leila Bekhti (Má Fé, 2006), que após constituírem família se aventuram ao exílio na França, onde continua com sua revolução à distância.


Kheiron utiliza o fator crítico político e ilustra a posição do Xá de modo bem humorado onde a violência, injustiça e aventuras decorrentes suavizam o que poderia ser um drama documentário.

Através da fuga, mudanças e adaptações na França vividas pelo protagonista transmite uma lição branda de coragem e luta por um destino onde o otimismo se faz presente sem a necessidade de frases de impacto ou autoajuda cena após cena. Escolher a França como vitrine de transgressão é brilhante por ser o primeiro país a protagonizar uma revolução.


A trilha-sonora presente em raros momentos alegres torna-se a união do final feliz do casal junto aos créditos finais sintetizando como um ideal pode transformar o próximo e o mundo. Há uma singela referência ao nome do diretor, ao ser citado por Hibat sobre o fato de seu filho - então na adolescência - adotar o apelido de Kheiron e não mais utilizar seu nome de batismo.


De maneira não intencional, a vertente política romantizada sobre um conflito de décadas vivido pela sociedade Iraniana expõe, em teoria, a origem de oposições extremistas que tange à atualidade desmistificando o outro lado da cortina, onde existe uma comunidade em constante busca por liberdade, igualdade e fraternidade através da vida e da família. Afinal, lar é onde sua história começa e onde o coração do homem cria raízes.

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