Cinema italiano em grande estilo
Engana-se quem busca um romance caricato ou lições de vida positivas e melodramáticas através do amor. O filme As Consequências do Amor - de Paolo Sorrentino (Aqui é o Meu Lugar, 2011) - trilha o limite entre a razão e a emoção em sugerir que a loucura do amor vai muito além do que o titulo aponta.
Titta (Tony Servilho, de A Grande Beleza, 2013) é um homem maduro e divorciado que vive há dez anos em um quarto de hotel na Suíça. De temperamento forte, mas sem nunca transparecer a emoção, passa aos demais uma imagem fria, dura e gera a desconfiança de hóspedes passageiros. Com seu silêncio e jeito enigmático desperta a curiosidade da barwoman Sofia (Olivia Magnani) que aos poucos o envolve e o permite se relacionar. Nela, ele deposita sua confiança, seus segredos e em parte seu amor, de modo platônico e passa a mudar seu modo de se posicionar.
Utilizando sabiamente o olhar seco e tedioso de Titta, o personagem faz com que, pouco a pouco, nosso interesse nele aumente. Surge nesse instante questões inquietantes de narrativa como o porquê dele morar no hotel. E qual a razão de seu arrependimento e silêncio em demasia.
Essas e outras questões não são explicadas em cena, Sorrentino conduz o espectador para pensar através do que se vê. Apesar de adotar um ar misterioso, o filme está longe de ser um suspense, porém não descamba para o óbvio com clichês nem final heroico. É um filme impactante, de cunho moral sem exageros ou lições de moral.
Não há escolhas de lado, caráter ou inclinações para predileções de personagens. Trata-se da realidade nua e crua da vida, do dinheiro fácil e das mudanças que o amor - ou o que acreditamos ser amor - nos induz a fazer. Aparências, poder, conquista e dominação caminham lado a lado com a paixão que conduz a trama.
O monopólio financeiro e a conquista pelo dinheiro está presente em cada desenrolar de histórias paralelas, como a de um casal de idosos - os antigos proprietários do hotel agora falidos - que aplicam pequenos golpes em jogatinas, embora mantenham a falsa ideia de aristocracia ao reter a venda de objetos valiosos e raros aos quais atribuem o passado e riqueza.
O filme - que é de 2004 - é de caráter atemporal, não há identificações como personagens sendo espelho do espectador. Reflete as escolhas que realizamos e suas consequências. É um paradoxo no qual se vive de aparências frívolas para mascarar paixões avassaladoras. O diretor utiliza flashbacks pontuais que por hora respondem as questões levantadas acima. Não há espaço para romances, a proximidade entre Titto e Sofia encaminha para a absolvição de erros cometidos, justificando em troca a ajuda ao próximo.
Quando a emoção flui livremente perde-se a razão do absoluto, do real, e tudo que há de secreto escorre sem barreiras. É um filme contemplativo, que sugere pararmos para confrontar nossos segredos ao utilizar a sensibilidade e a tensão para mostrar o transtorno da realidade como um marco de uma nova era grandiosa do cinema italiano.