Fábula italiana sobre o poder
O cinema italiano é fabuloso, uma mistura inigualável de cores e gêneros que inspiram cineastas em todo o mundo. É contagiante a diversidade que se pode encontrar, mesmo que às vezes isso não seja suficiente para manter um bom filme, que é o caso de As Confissões.
O monge Roberto Salus (Toni Servillo) é convidado para uma reunião em um hotel luxuoso na Alemanha, onde depois de uma crise financeira, ministros do G8 decidem se encontrar para adotar uma manobra polêmica que pode afetar gravemente alguns países, porém acontece um fato inesperado que acaba colocando o pobre monge na mira de uma investigação.
No início, o filme se mostra um suspense interessante, colocando um senso poético sobre moralidade e poder. O diretor Roberto Andó (Viva a Liberdade, 2013) passeia com a câmera entre os personagens, criando uma atmosfera claustrofóbica, e isso vai ganhando o público aos poucos com a tensão que surge entre eles a cada ato. Ao final, o expectador está genuinamente curioso com o desfecho da narrativa.
Além de atuações fortes do elenco - que consegue adicionar "tempero" ao suspense - todos os personagens são consistentes e isso ajuda na imersão do mistério que cerca o hotel, lembrando filmes de suspense dos anos 50 e 60, onde o ritmo lento era usado para desenvolver os personagens, brincando com os dilemas dúbios dos personagens.
Tudo levava a crer que esse seria um suspense consistente até o final, no qual o filme se revela uma fábula. Negando todo o desenvolvimento proposto, o longa tem um desfecho menor, que dá a impressão de ter sito escrito às pressas. Fica na boca o gosto amargo de uma sobremesa ruim, que apesar de ter diálogos dando pistas sobre o que o filme se propõe, não é o suficiente.
Andò - que também assina o roteiro - mostra o quando tem habilidade para levar qualquer gênero, pois todas as peças que usa são bem amarradas, apesar de ter alguns problemas com o rítmo, que com o passar do tempo vai ficando lento, o que pode tirar atenção do público que precisa estar focado para entender o final alegórico.
Uma pena o filme não ter mais consistência no seu final, sendo corajoso aos próprios temas propostos.
O trabalho cinematográfico da equipe de produção é impecável. Apesar do desfecho é uma boa pedida para o festival, pois mostra o quanto o cinema italiano é versátil, com fortes atuações de um elenco igualmente versátil.