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ÚLTIMOS DIAS NO DESERTO (Last Days in the Desert)


Abordagem sutil e interessante

Filmes religiosos existem aos montes. Diretores, roteiristas e produtores exploram o tema até a última gota. Então, fazer algo original é um tanto complicado no mundo cinematográfico, contudo Últimos Dias no Deserto aposta em abordar um ângulo diferente na história de Jesus Cristo.


O filme conta sobre os últimos dias de peregrinação do ícone católico, que no caminho para Jerusalém encontra com um garoto, cuja mãe está muito doente e tem um complicado relacionamento com o pai. Logo se vê envolvido nos problemas familiares e decide ajudar a família no que puder.


O roteiro de Rodrigo Garcia (Destinos Ligados, 2009) - que também é o diretor do longa - não perde tempo em humanizar o seu personagem principal, constantemente focando em sua vulnerabilidade, cercado pelo deserto. Durante os primeiros minutos, a fotografia de Emmanuel Lubezki (Gravidade, 2013) brilha ao desbravar o deserto, construindo uma narrativa interessante sobre o filho de Deus, até mesmo quando encontra a família existe uma curiosidade genuína em torno do filme até seu fim.


Optando por um ritmo lento, o diretor escolhe desenvolver e ser sutil com os personagens, criando uma atmosfera alegórica sobre a jornada do protagonista. A sutileza diminui o ritmo do filme, que fica um pouco arrastado, correndo o risco de afastar o público.


Ciarán Hinds (Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança, 2012) e Ayelet Zurer (O Homem de Aço, 2013) dão interpretações competentes durante o longa-metragem. O único que não consegue manter o nível é Tye Sheridan (X-Men: Apocalipse, 2016), talvez por ser jovem e não ter tanta experiência quanto os outros atores, desequilibrando o elenco de apoio, pois muito do filme precisa dessa química, e esse desequilíbrio atrapalha a concepção final do longa.


Ewan McGregor (Star Wars: Episódio 3 - A Vingança dos Sith, 2005) é um bom ator, e isso pode ser

visto com a sua performance, na qual - além de Jesus Cristo - interpreta também o demônio. A distinção entre os dois personagens é bem visível e só um bom ator conseguiria esse feito, seguindo contido com Jesus e audacioso com o Demônio. Ele se encaixa mais como um observador a essa alegoria sutil.


O filme é interessante, consistente no tema que quer abordar. Por ser primoroso, pode se mostrar um pouco diferente para o público, que se acostumou a ver Jesus Cristo mais ativo em outros filmes. Não é ruim, apenas não é para todos os gostos, pois trata-se de um estudo sobre a jornada de Jesus, não uma propaganda religiosa.

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