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UM LIMITE ENTRE NÓS (Fences)


Os limites para se transpor e repensar

Ao longo da história do cinema há atrizes e atores que exploraram outras funções como produtores e diretores em filmes expressivos: Angelina Jolie (À Beira Mar, 2015), Ben Affleck (Argo, 2012), Charles Chaplin (O Grande Ditador, 1940), Clint Eastwood (Menina de Ouro, 2004), Dennis Hopper (Sem Destino, 1969), George Clooney (Confissões de uma Mente Perigosa, 2002), Jodie Foster (Jogo do Dinheiro, 2016), Mel Gibson (Coração Valente, 1995), Robert Redford (Gente Como a Gente, 1980), Sean Penn (Na Natureza Selvagem, 2007), Selton Mello (O Palhaço, 2011), Woody Allen (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, 1977), para citar alguns dentro de uma lista maior.

Denzel Washington (O Voo, 2012) está nessa lista com Um Limite Entre Nós (Fences, 2016), seu terceiro filme como diretor após Voltando a Viver (Antwone Fisher, 2003) e O Grande Desafio (The Great Debaters, 2007). Ao analisar esses três filmes já é possível encontrar marcas autorais em relação aos temas que lhe são caros enquanto artista para se debater: os conflitos que os negros norte-americanos travaram e travam ao longo dos anos em uma sociedade preconceituosa e hipócrita.


Dentre as 4 indicações ao Oscar para Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Adaptação, entre outras indicações para outras premiações, Viola Davis (Esquadrão Suicida, 2016) levou o Oscar e mais cinco vitórias. Apesar da cara de frustração de Denzel na premiação do Oscar a Melhor Ator, ele levou como Melhor Ator na premiação do Sindicato dos Atores (Screen Actors Guild). Essa atitude é compreensível devido a sua trajetória como ator e o tema que quer discutir. Mas pelo engajamento, Moonlight (Barry Jenkins) também deu o seu recado.


Um Limite Entre Nós é baseado na peça de teatro escrita por August Wilson, ganhadora dos Prêmios Pulitzer e Tony Award, em 1987. O roteiro é assinado também por Wilson. Por se tratar de uma adaptação teatral, o filme traz esses elementos em sua constituição. Seja pelas atuações que dão força ao desenvolvimento da narrativa e por onde o enredo se passa, praticamente todo no quintal da família de Troy Maxson (Denzel Washington). Rose (Viola Davis) é a esposa de Troy, um pai de família que carrega algumas frustrações por não poder ter sido quem realmente queria, um jogador de baseball, e a responsabilidade de cuidar da própria família, o filho mais novo Cory (Jovan Adepo) e seu irmão que sofreu um acidente na Segunda Guerra Mundial, Gabriel (Mykelti Williamson).

A trama se desenvolve por essa relação de Troy com seus filhos e a esposa. Sim, há um filho mais velho, Lyons (Russel Hornsby), fruto de outro casamento. O conflito de gerações na busca de seus ideais e de como se colocar perante o mundo com eles é existente neste filme e na maior parte das famílias. Seres humanos possuem cada um seus objetivos e a concretude da vida vem ao lidar essa subjetividade com a maneira como estão estabelecidas as conquistas sociais. Troy ao se deparar com o desejo de seu filho em jogar futebol tem a consciência de outra época, de quando era mais novo, tempos em que os jogadores eram todos brancos, não havia espaço para sonhos de outras etnias. E ao se relacionar com Cory, de seu jeito pode parecer brusco, mas é a linguagem que possui para expressar afeto.

“Cory: Por que você jamais gostou de mim?

“Troy: Gostar de você? Saio daqui todas as manhãs... ralo pra caramba... tolero aqueles brancos todo dia... porque eu gosto de você? Você é o maior tolo que eu já vi. É meu trabalho. É minha responsabilidade. Você entende isso? Um homem tem que cuidar da própria família.”.


A fotografia do filme não traz inovações e ousadias a fim de ressignificar e renovar o cinema, dá conta do recado ao desenvolver a narrativa sem que seja enfadonha - grande risco dos filmes que se passam em apenas uma locação e adaptações de peças teatrais possam sofrer - como Deus da Carnificina (Roman Polanski, 2011). Segue o classicismo em seus planos, composições e enquadramentos - o que não é negativo, pelo contrário - a fotografia trabalha em união ao texto cheio de diálogos com o intuito de sua característica teatral, valorizar cada atuação, expressão e nuance das personagens. Denzel está em uma de suas melhores atuações, e Viola traz toda a carga de complexidade que sua personagem possui dentro desse contexto.


A cenografia na qual a trama se desenvolve faz o link com as personagens, o texto, o tema e o título: Um Limite Entre Nós. Uma cerca ao longo do filme é construída nesse quintal. Esse quintal de onde se pode ver o céu e sua imensidão, as possibilidades da vida, ao mesmo tempo é o refúgio e a realidade na qual se está.


Denzel Washington mostra com vigor a manipulação e o controle do tempo nesse espaço, intensificado pelas atuações de cada ator. Segura a tensão e a libera ao lidar com um tema tão humano, as cercas com as quais vamos nos blindando perante a vida para não se machucar, mas isso é impossível, pois ao delimitarmos um espaço, o espaço de cada um, estamos lidando com o espaço do outro, seja qual laço for, familiar, vizinhos e amigos.


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