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PAPA FRANCISCO: Conquistando Corações (Francisco: El Padre Jorge)


Um filme de homenagem

Beda Docampo Feijóo (Amores Loucos, 2009) é um cineasta espanhol pouco conhecido no Brasil, ao contrário da figura retratada em seu novo filme Papa Francisco: Conquistando Corações.


O filme é baseado no livro Papa Francisco – Vida e Revolução, da jornalista italiana Elisabetta Piqué, correspondente do jornal La Nación de Buenos Aires, na Itália e no Vaticano desde 1999. A história do papa é contada pelo olhar de Ana (Silvia Abascal), uma repórter espanhola que começa a ser correspondente do Vaticano às vésperas do conclave de 2005, no qual Joseph Ratzinger torna-se o Bento 16.


A narrativa se passa no conclave de 2013, com saltos ao passado. Vemos conversas e situações da adolescência e fase adulta que tornam-se definidoras do caráter de Jorge Bergoglio, interpretado quando jovem por Lucas Armas (O Inventor de Jogos, 2014) e adulto por Darío Grandinetti (Julieta, 2016).


Um diálogo interessante surge quando Bergoglio diz para sua mãe e avó que será padre. A avó, incentivadora das sensibilidades do jovem diz: “O que há de mal em ser um padre?”, a mãe responde “O que há de bom em ser um padre?”. Essas frases sintetizam a discussão do filme que mostra uma personagem que não almeja seu objetivo conquistado, ser o papa da igreja católica. Chega a esse posto por sua humildade e pelas consequências de suas ações em querer ser um bom padre e ajudar as pessoas.


Ao se fazer a biografia fílmica de uma pessoa - ainda mais se ela estiver viva - duas questões aparentemente surgem: ética em relação ao objeto retratado e o porquê aquela pessoa merece estar em um filme. A ética vem sob o prisma do documentário e a imagem da pessoa criada na organização do material, o que acarreta em moral sobre o tema que ali se quer discutir. E se alguém vira intenção de um cineasta em ser retratado num filme é porque algo de humano ali pulsa para ser expressão e reverberação ou pode ser puro fetichismo.


Em seguida uma problemática: a tendência é engrandecer as ações para que seja uma personagem cinematográfica. Aqui, isso vem das ações humanas da personagem retratada e não a roupagem que se dá para o que representa pouco usualmente. Esta é uma questão que acaba tornando a personagem um tanto chapada, pois o enredo apresenta apenas as boas ações em situações que não se prolongam, não há conflito, não conseguimos aprofundar a sua psicologia. Acaba por se tornar um filme de homenagem.


A estética do filme mescla ficção com documentário, com uma fotografia e composição em estilo publicitário. O ritmo faz com que você acompanhe a trajetória desse cidadão de bem e sua filosofia. O grande público e católicos certamente gostarão do trabalho, porém, visto de forma neutra, apresenta superficialidade da maneira como é realizado em contraposição à postura do retratado. A interpretação de Grandinetti não é nada complexa, pois o roteiro não explora as contradições que enriqueceriam a atuação.


As religiões existem, e por mais complexas e contraditórias sejam em suas questões teóricas e práticas, a figura de Bergoglio instaura perguntas para uma remodelação dessa relação espiritual e de uma das maiores instituições, a Igreja Católica. O filme não faz questão de trazer polêmicas, mas formula algumas perguntas no quesito humano.



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