Uma dramédia livre para toda a família
Um homem solteirão cuja vida regada aos prazeres é alterada quando descobre que é pai seria a premissa dessa comédia - de estreia na direção do roteirista Hugo Gélin (Gaiola Dourada, 2013) - sendo uma refilmagem do mexicano Não Aceitamos Devoluções (Eugenio Debez, 2013). O que poderia ser mais uma comédia familiar e clichê vinda de Hollywood, na verdade possui a ironia britânica e o humor físico e de situações à francesa, numa coprodução dos dois países.
Omar Sy (Chocolate, 2016) interpreta o solteirão imaturo e festeiro Samuel, que após uma noite de farra em Marselha - litoral sul francês - descobre que tem uma filha - Glória (Gloria Colston) - recém nascida com a londrina Kristin (Clémence Poésy). Esta lhe pede 20 euros para pagar o táxi e não retorna mais. Diante disso, Samuel - com o bebê e um perfil de Facebook - vai para a capital inglesa atrás da garçonete de pub.
Desempregado, sem saber inglês e cansado das buscas, ele é ajudado pelo produtor de cinema e homossexual Bernie (Antoine Bertrand) a criar a menina entre brincadeiras e mentiras sobre a mãe. Após 8 anos, a mentira vira verdade quando a menina reencontra Kristin.
O roteiro tem ritmo acelerado e boa montagem, que ajuda as atuações, e a direção. As referências - além do longa-metragem mexicano - são as produções hollywoodianas, séries por transmissão via internet e longas-metragens de animação.
A comédia dramática é pautada pelo carisma de Omar Sy como um pobre coitado em todos os seus limites humanos que deseja o melhor para seus entes queridos, tal qual Roberto Benigni em A Vida é Bela de 1999.
Também inclui a zombaria entre os dois países, a homossexualidade masculina enrustida e o típico fluxo narrativo americano: Premissa, Encontro, Ruptura, Reencontro. As partes tristes ficam por conta da atriz mirim nos pontos de virada entre os atos, além das lições de vida sobre amadurecimento pessoal.
O filme - de duas horas de duração e classificação livre - é uma boa comédia dramática para assistir sem se preocupar com um final fácil e pronto. Não é uma decepção para quem gosta de comédia ou tenta fugir da repetição cinematográfica. É um pulo do penhasco sem medo de ser feliz. Tal qual a vida.