Sensível como um nocaute
O cinema é uma das artes mais eficientes em nos transportar para a sensibilidade de outras culturas. Adentrarmos na poesia do ritmo de vida de outra sociedade e vermos como o meio influencia no tempo com que praticamos, desde ações influentes em outras até o apreciar do olhar ou a aflição de um sentimento.
O público brasileiro conhece pouco da cinematografia finlandesa, a não ser pelos filmes que são exibidos em festivais. Poucos entram no circuito das salas, e O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki é um belo convite para se provocar a ir atrás deste universo de boas reflexões.
Olli Mäki (Jarkko Lahti) é um pugilista amador finlandês que leva uma vida tranquila e pacata, virada ao avesso quando recebe a chance de lutar na final do Campeonato Mundial de Boxe na categoria Peso Pena. Rapidamente elevado ao status de símbolo nacional, Olli precisa controlar as expectativas da nação para tentar vencer a luta, para a qual deve perder peso e se concentrar, mas o amor por Raija (Oona Airola) desequilibra seu foco.
A ficção de Juho Kuosmanen (Taulukauppiaat, 2010) - seu segundo longa-metragem - possui um leve caráter documental pela maneira como se compõe em seus planos e ritmo ao adentrarmos nos sentimentos deste boxeador. Realizado em preto e branco, traz em sua textura uma poesia da angústia deste personagem ao lidar com um dos sentimentos que consegue fazer um objetivo se desvirtuar: o amor.
O gênero dos filmes de luta é ressignificado ao colocar em primeiro plano o estado de espírito do lutador - e não a luta em si -, seu treinamento e dificuldades de uma maneira superficial e acumulativa, como um série de exercícios para se fortalecer apenas os músculos e vencer no final. Olli é um anti-herói, contra as expectativas sentimentais de um público e no processo de seu auto-conhecimento.
Em vez do glamour sempre retratado, o humano lidando com seus sentimentos emerge, sem fórmulas, no diálogo e na experiência de se estar vivo e disposto para tal.