Nem popular demais, nem hermético demais
Sem querer ser popular demais a ponto de tornar-se um blockbuster e sem ser hermético a ponto de ser chamado "cinema de arte", Como Nossos Pais é um belíssimo exemplo de cinema que pode ocupar um espaço entre os dois estilos.
Dirigido por Laís Bodanzky (As Melhores Coisas do Mundo, 2010), conta a história de Rosa (Maria Ribeiro), uma jovem de classe média, casada com o idealista Dado (Paulo Vilhena) e mãe de duas meninas. Com seu equilíbrio emocional à beira de um ataque de nervos, tudo muda após uma conversa com sua mãe Clarice (Clarisse Abujamra) onde duas revelações irão mudar sua vida.
Com roteiro assinado pela diretora - junto com seu parceiro Luiz Bolognesi (Uma História de Amor e Fúria, 2013) - o filme consegue apresentar um assunto delicado, difícil de se expressar sem cair no didatismo. Também escapa da armadilha que seria exacerbar na verborragia. Como uma espécie de "Capitu às avessas", sugere que Dado possa ter um caso extraconjugal mas em nenhum momento isso é definido. É um filme que exala maturidade, pois apresenta diversos assuntos mas nunca tenta colocar algum deles como verdade absoluta. Em certos momentos lembra o - tão badalado - cinema iraniano e argentino.
A diretora/roteirista conseguiu extrair de Maria Ribeiro sua melhor interpretação, não à toa lhe rendeu o Kikito de Melhor Atriz. Numa atuação mais contida - mas que também lhe rendeu o prêmio - Paulo Vilhena vem reafirmando cada vez mais seu talento como ator. Laís ainda se arrisca ao escalar o músico/compositor Jorge Mautner para interpretar Homero, o pai de Rosa. O resultado é impressionante, e ele imprime graça e frescor ao "bicho-grilo" da terceira idade, tornando-se o alívio cômico do filme. Em certos momentos, provoca sorrisos tão espontâneos de Maria Ribeiro, ficando nítido o quanto eles se divertiam no set.
Clarisse Abujamra encarna seu personagem com tanta propriedade, que consegue dar a ele a segurança que a maturidade - e outras coisas que não devo mencionar para não dar spoiler - trazem. Não à toa, também foi premiada no Festival de Gramado. O único que destoa é o ator Herson Capri (Minha Mãe é uma Peça 2, 2015), que faz uma pequena participação e está num registro mais teatral do que seus colegas.
Além de conseguir extrair grandes atuações, a diretora consegue apresentar a morte da forma mais elegante que se poderia imaginar. Em seu quarto longa-metragem, tem o mérito de não deixar-se levar por questões mercadológicas, e realiza um filme sincero, raro, feito a um público muito específico e exigente.