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UMA MULHER FANTÁSTICA (Una Mujer Fantástica)


Quando uma cena já vale o ingresso

O assunto transexualidade tem sido cada vez mais debatido nos meios de comunicação, e é ótimo que seja assim, pois vivemos no país que mais mata homossexuais no mundo. Apesar de alguns problemas, A Mulher Fantástica vem a reforçar a importância de falarmos no assunto.


Na produção chilena - coproduzida com Estados Unidos, Alemanha e Espanha - Marina (Daniela Vega) é uma transexual que vive com Orlando (Francisco Reyes). Ele é bem mais velho que ela, é bem sucedido, enquanto ela é garçonete e cantora em restaurantes da cidade. Com a morte dele - que pouco antes se machuca ao cair da escada - ela passa a enfrentar todo tipo de preconceito, desde a suspeita de assassinato - pela polícia - até ser proibida de despedir-se de seu marido no velório, pois a ex-mulher e os filhos não querem que todos saibam que ele vivia com uma transexual.


A atuação de Vega é impecável, apesar de que o fato de ser uma transexual na vida real torna o trabalho mais fácil, porque ela já tem os maneirismos necessários da personagem. Algo diferente do que se fosse um ator interpretando uma transexual, como fez Lázaro Ramos de forma absoluta em Madame Satã (Karin Ainouz, 2001). De qualquer forma, é admirável o ótimo trabalho da atriz e do ator Reyes.

A direção de Sebastián Lelio (Gloria, 2013) é delicada e mostra a visão da protagonista durante todo o filme. Tem uma clara influência do espanhol Pedro Almodóvar (Julieta, 2016) e a grande virtude - junto com a montagem precisa de Soledad Salfate (Gloria, 2013) - de estar no tênue limite do melodrama, mas nunca deixar-se levar por este caminho mais popularesco.


É curioso que o maior problema do filme seja exatamente o que está lhe dando lastro de qualidade: o roteiro. Assinado pelo diretor junto com Gonzalo Maza (Navidad, 2019), foi premiado no Festival de Berlim. Porém, peca ao apresentar uma protagonista que sofre todo tipo de adversidade da forma mais complacente possível, e ao final não dar um basta na situação, como era de se esperar em pessoas com esse tipo de temperamento.

As situações que enfrenta não são novidades para qualquer pessoa que conheça alguém na mesma situação, mas vê-las encenadas é revoltante, fazendo com que o público espere uma reviravolta, o que não acontece. É quase como se o filme estivesse contando a história de uma santa, como no filme Madre Teresa (2003), em que a protagonista enfrenta todos os problemas sem nunca perder a serenidade.


Uma cena, especialmente, torna o filme especial. Pouco antes do acidente, o casal dança ao som de Time (Alan Parson), onde a letra conta como o tempo escapa às nossas mãos, em versos como: Adeus meu amor, talvez para sempre. Quem sabe quando nos encontraremos novamente?

Esta cena é daquelas que assistimos com o coração apertado e lágrimas nos olhos. Só por ela o filme já merece ser visto, uma vez que tantos filmes passam incólumes e são esquecidos no momento dos créditos finais.


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