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POLÍCIA FEDERAL – A lei é para todos


Cinema em tempo real

O desenvolvimento do cinema nacional tem promovido cada vez mais a diversidade de gêneros. Após o filme Real – o plano por trás da história (Rodrigo Bitencourt, 2017), é a hora de se aprofundar num outro caso real, dessa vez mais recente e mais estarrecedor: a Operação Lava-Jato.


Tendo como estopim a apreensão de uma carga de palmitos recheados de cocaína, o filme Polícia Federal – A lei é para todos conta a história da maior operação anticorrupção já feita no país. Na trama, o delegado Ivan (Antonio Calloni) é o responsável pela investigação do caso. Para tanto, monta uma equipe de notáveis com Beatriz (Flávia Alessandra) e Júlio César (Bruce Gomlevsky).

Conta como chegaram às prisões de gente poderosa, daquelas que até muito recentemente se dizia que jamais iriam para a prisão - como o maior empreiteiro do país Marcelo Odebrecht (Leonardo Medeiros), o presidente do Banco do Brasil Paulo Roberto Costa (Roney Facchini), além da condução coercitiva do ex-presidente Lula (Ary Fontoura) - e como foram recuperadas fortunas, que empilhadas formariam uma montanha de quatro metros de altura em dinheiro vivo. Tudo isso tendo que lutar contra as "brechas da lei".


Uma das grandes virtudes do roteiro de Thomas Stavros (Acerto de Contas, 2014) e Gustavo Lipsztein (Tensão em Alto Mar, 2002) é conseguir fazer com que uma operação tão complexa seja compreendida pelo público. No elenco, os destaques vão para o protagonista Calloni - que nas poucas vezes que faz cinema sempre se sai muito bem - Gomlevski - que apresenta uma personalidade forte, tanto nos momentos de alegria quanto nos de fúria - e Roberto Birindelli, no papel do doleiro fanfarrão Alberto Youssef, o verdadeiro alívio cômico do filme. Uma vez ou outra, algum ator secundário destoa do elenco principal, o que é o menor dos problemas numa produção deste porte.


Polícia Federal – A lei é para todos é um filme corajoso, que “dá nome aos bois” sem pudores, apenas alterando os nomes dos policiais pelo fato de que, dramaturgicamente, ficou mais interessante concentrar ações de diversos policiais em poucos personagens.


Procura seguir a linha "ação investigativa" e é muito bem realizado – com uma excelente produção -, sabe dosar os momentos cômicos, como na gravação original de Dilma Roussef dizendo a Lula que estava enviando um documento para que ele se tornasse ministro em caso de prisão decretada.


O diretor Marcelo Antunez que vem de sucessos na comédia como Qualquer Gato Vira-Lata 2, (2014), Até que a sorte nos Separe 3 (2015) e Um Suburbano Sortudo (2016), mostra que também é bom em outros gêneros, conduzindo cenas de ação com maestria, pontuando momentos cômicos na medida certa, conseguindo manter a tensão quando necessário, além da inserção de animações muito pertinentes ao que se quer contar.

Eventualmente, chega no limite de tornar-se explicativo - principalmente por conta da voz off e de alguns diálogos - mas isso é natural quando se trata de um assunto cujo limite entre o explicativo ou o incompreensível seja tão tênue.


Parte da crítica tem reclamado que o filme é visto pelo ponto de vista da polícia, mas, como diz Paulo Cursino - o roteirista brasileiro de maior êxito de bilheterias, com filmes como a franquia De Pernas pro Ar (2010), Até que a Sorte nos Separe (2012), O Candidato Honesto (2014) e Um Suburbano Sortudo (2016) -, "ninguém viu o lado dos alemães em Dunkirk (Christopher Nolan, 2017), nem o lado de Nixon em Todos os Homens do Presidente (Alan J. Pakula, 1976), ou mesmo o lado da Igreja Católica - ou dos padres - no filme Spotlight (Tom McCarthy, 2016)".


Também há quem diga que o filme aborda assuntos que ainda não foram apreciados pela justiça. Cursino comenta: "O audiovisual brasileiro precisa de sentido de urgência, de relevância, e a solução é esta, fazer agora, porque nossa realidade não dará refresco tão cedo. O filme de Marcelo pode ser encarado como revolucionário, uma aula de projeto, de proposta, e coloca em debate o real papel do cinema na sociedade."

Para quem acompanha o cinema nacional, é gratificante ver que estamos nos desenvolvendo a ponto das empresas financiarem filmes como investimento comercial, sem leis de incentivo. Algo tão comum em outros países. Isso aconteceu em Internet - o filme (Filippo Capuzzi Lapietra, 2016) e agora com Polícia Federal - A Lei é para Todos.


Durante os créditos finais são apresentados depoimentos verídicos dos investigados e dos investigadores do caso. São apontados os números da corrupção, como o duzentos milhões de reais que são desviados anualmente. De forma corajosa, apresenta o depoimento real de Paulo Roberto Costa, que declara que a política brasileira "é muito mais podre do que se imagina", citando como exemplo o caso do ex-prefeito assassinado Celso Daniel. E que venha o tão aguardado filme sobre o famoso caso.


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