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VERÃO 1993 (Estiu, 1993)


Aparências de uma subjetividade familiar


A infância é o momento no qual o novo sempre vem com a potência de uma descoberta em vários níveis, seja no sensorial em relação à subjetividade e na configuração do que possa ser a vida nos acontecimentos possíveis. No meio deste turbilhão há a família, instituição que ajuda a construir um ser humano e ao mesmo tempo destruí-lo, uma questão complexa e reflexo que depende do moral e maneira com que cada integrante se coloca perante os olhos de uma criança em sua síntese sobre o amor.


Carla Simón - em seu primeiro longa metragem - destrincha com poesia, tensão e envolvimento o cotidiano de adaptação de Frida (Laia Artigas), uma criança de seis anos, em sua nova rotina ao ter de ir morar com seus tios e prima no campo, após a morte da mãe, por uma doença que ela não consegue entender.


No dia a dia, Frida lida com o amor dos tios nessa sua nova fase e a companhia de sua prima mais nova Anna (Paula Robles). Por mais que seja grande o carinho dos familiares para com a criança, a relação não chega a ser a mesma em alguns momentos quando se trata de Anna e Frida. O filme explora essas nuances de maneira bem inteligente e delicada, sem tomar um partido maniqueísta, ao mostrar a contradição desses afetos, mas que não têm o caráter de exclusão, pelo contrário, são sentidos para que a inclusão seja cada vez mais acolhedora, sem a diferenciação. O conflito está justamente nessa busca.


A direção de fotografia ajuda muito na construção da atmosfera desejada e necessária, ao dilatar o mistério e a tensão das situações em seus planos longos e sequência em quase todo o filme. A rapidez dos cortes e plano x contraplano dá lugar ao tempo da vida, de se adentrar em uma situação de maneira orgânica e não artificial. O espectador compartilha da intensidade da narrativa como se fosse o registro em vídeo de algum familiar.


Verão 1993 trata da infância de uma maneira bem próxima à autora, o que nos deixa indícios do quanto essa história está nela e é parte de sua constituição enquanto artista e ser humano, o que faz com que ao público venha com potência e sem barreiras. Um filme que surpreende pela sutileza e pela intensidade, que se sustenta em quase o seu todo pela atuação de Laia Artigas, a protagonista que acompanhamos do início ao fim em sua descoberta, na descoberta de nós mesmos.


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