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JOVEM MULHER (Jeune Femme)


Potência da personagem

Para seguirmos a trajetória de uma personagem, ela deve no mínimo ser intrigante, não apenas interessante, uma palavra qualitativa abstrata. O intrigante dialoga com alguma questão do nosso íntimo e aguça a curiosidade para se ver até qual ponto pode-se chegar aquele ser, ação após ação, seus dilemas tão nossos, sob diversos prismas.


Jovem Mulher é o primeiro longa-metragem da diretora Léonor Serraille após um curta-metragem na mesma função e três como roteirista. A realização traz o frescor e a liberdade de quem explora a linguagem cinematográfica para narrar uma história potente, orgânica e fluida.


Acompanhamos Paula - com seus 31 anos - em um caótico encontro de si mesma na cidade de Paris após o término de um relacionamento que era tudo para ela, o seu mundo. A desestabilização está instaurada em seu rumo incerto, a surpresa é constante ao conhecermos a personagem pouco a pouco nas situações em que ela se joga, na ânsia de viver e se equilibrar.

Estamos sempre nas situações sob o ponto de vista de Paula, cuja atuação de Laetitia Dosch (Um Belo Verão, 2016) é sensível, intensa e cheia de nuances. A atriz trabalha a complexidade da personagem de maneira potente, em cada cena roteiro e atuação dialogam de maneira eficiente e envolvente. Os detalhes do olhar, respiração e expressão trazem à tona a inocência, impulsividade e perplexidade de uma maneira humana, o que mostra ser este filme e personagem uma questão forte e vital no processo de amadurecimento para atriz e diretora.


A linguagem fotográfica se utiliza de planos longos, câmera na mão e poucos cortes para trazer essa fricção entre o psicológico e o inesperado acompanhamento da personagem. Para um filme com questão tão humana, a estabilidade plástica não dialogaria e talvez deixaria a narrativa rasa e falsa.


Jovem Mulher chega aos cinemas como um refresco com um tema que perpassa para muitos em algum momento da vida no ato de se ressignificar perante a vida. A criticidade do olhar francês mais uma vez mostra a distinção ao lidar com o aparato cinematográfico para contar uma boa história e significativa. Em uma época que é crescente as personagens femininas com mais voz, é um filme que acerta em cheio para deixar uma marca concreta na discussão de maneira poética e objetiva.


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