Uma comédia como só os franceses sabem fazer
No mundo do cinema, um filme de sucesso torna-se passaporte automático paras os Estados Unidos. E como consequência, grandes orçamentos, atores badalados e quase sempre, histórias mais rasas do que as anteriores.
Com os roteiristas e diretores Eric Toledano e Olivier Nakache (ambos de Samba, 2015) aconteceu diferente. Talvez pela cultura bairrista dos franceses, eles optaram por ficar na França - seu país natal -, mesmo após o estrondoso sucesso de Intocáveis (Intouchables, 2012) - não confundir com Os Intocáveis (The Untouchables, 1987), de Brian de Palma.
O filme foi a maior bilheteria de um filme francês no próprio país, além de ter uma versão argentina e outra – inédita – americana. Além disso, no Brasil foi feita uma adaptação para o teatro estrelada por Aílton Graça (Carandiru).
Intocáveis fez do ator Omar Sy uma celebridade, emendando diversos trabalhos de sucesso depois, como Chocolate (Roschdy Zem, 2016) e Transformers - O Último Cavaleiro (Michael Bay, 2017). O ator também estrelou o filme seguinte dos diretores – Samba (2015) – que passou despercebido por crítica e público.
Curiosamente, os cineastas franceses apresentam agora um trabalho inverso do que se poderia esperar após tanto sucesso: um filme modesto, com apenas uma locação, um elenco plural, multiétnico e multirracial, com uma história simples e sem nenhuma megaestrela internacional.
Assim é a Vida conta a história de Max (Jean-Pierre Bacri), um cerimonialista que vive de organizar festas de casamento. É obrigado a superar todos os obstáculos possíveis, como noivos que querem ter o máximo pelo menor valor, um cantor que acredita ser uma celebridade, uma gerente que briga com tudo e todos, um fotógrafo que detesta a modernidade e come mais canapés do que tira fotos, um grupo de funcionários estrangeiros que estão ilegalmente no país, um funcionário – apresentado como experiente – que nunca esteve num trabalho como esse, até comidas que se estragaram por um problema de conservação dos alimentos.
O elenco todo é muito coeso e apresenta enorme sintonia, com destaque para Gilles Lelouche, que interpreta o cantor da festa e Jean-Paul Rouve, que vive o fotógrafo problemático.
Tudo é apresentado de forma leve e divertida, valendo-se de alguns conhecidos personagens desse tipo de evento para extrair situações engraçadas e quase surreais. A comédia critica com suavidade a política de imigração - tal como fez de forma mais direta em Samba - ao abordar a questão dos subempregos oferecidos a estrangeiros que vivem ilegalmente no país.
O filme ainda alterna uma trilha sóbria, romântica, de piano, com hits da Disco Music como Can’t take my eyes of you e Young Hurts run free, que nos dão vontade de dançar na sala de cinema. Efeito parecido já podia ser visto em Intocáveis e Samba.
Apesar de se passar em apenas uma locação – um belíssimo castelo do século XVII -, exceção apenas da cena inicial que acontece numa sala qualquer, Assim é a Vida tem um ritmo contagiante, alternando momentos divertidíssimos com drama e romance, tudo com ótimos e afiados diálogos. O fato de não trocar de locações em nenhum momento faz dele um filme enfadonho ou cansativo. É daqueles filmes que assistimos com um sorriso no rosto e a grata sensação de termos descoberto uma pequena joia.