Ética liquida
O documentário nacional Cartas para um Ladrão de Livros, dirigido pelos estreantes Caio Cavechini e Calos Juliano Barros, narra a história de Laéssio, ladrão de obras literárias que em seu empreendimento, roubou e vendeu mais de 2.000 mil itens das bibliotecas brasileiras.
Para muitos, o crime compensa por tempo determinado e Laéssio faz parte desta estatística. Inteligente, o autodidata é admirador de Carmen Miranda. Sua paixão o fez buscar toda informação em revistas que se encontravam no acervo de uma biblioteca. Insatisfeito por devolver o conteúdo visto, o fã viu a oportunidade de ter aquela página para ele, e naquele momento atravessa o limite do dever e surge o ladrão. Tamanha foi a facilidade em levar embora o material, que o personagem real vislumbrou um novo plano de negócios, um livreiro que negocia raras peças da literatura.
O filme foi produzido em um processo longo, devido à situação do protagonista com a justiça. Tela negra, gravações telefônicas, vídeos das câmeras de segurança, entrevistas, sequências líricas e leitura de cartas trocadas entre diretor e “ator” compõe a narrativa.
Questionando os idealizadores se ética determina estética, afirmaram que não, embora sentiram o gosto marginal ao gravar uma cena em local controlado sem a devida autorização.
Ser ou não ser, eis a questão. Laéssio sabe quem deseja ser e orgulha-se em ter se tornado o maior ladrão no segmento literário. Para alguém que sabe o valor dos documentos por ele surrupiados, fazer parte e tornar-se personagem da história nacional é imensurável. E o cinema é a cereja do bolo que eternizará a aventura por ele criada.