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UMA ESPÉCIE DE FAMÍLIA (Una Especie de Familia)


Nem sempre é dia de 7 x 1

Não é de hoje que se tornou lugar comum elogiar o cinema argentino. Há quem diga que este não é tão superior assim, mas que a fama se justifica pelo fato que somente as melhores produções chegam ao Brasil. Piadas à parte, em Uma Espécie de Família - filme em coprodução com o Brasil - não se faz jus à fama que o cinema do país vizinho criou.


Dirigido por Diego Lerman (Nós, Eles, Eu, 2016), o filme conta a história da médica Malena (Bárbara Lennie), que viaja muitos quilômetros para adotar uma criança que está para nascer. Um plano que parecia simples, começa a se complicar, pedidos de suborno, falsificação de documentos e mais alguns elementos quase transformam o drama em policial.


A protagonista consegue carregar bem a história - calcada quase toda em sua interpretação - e isso não só é mérito da atriz como também do diretor, porém o fraco roteiro - que assina com sua parceira Maria Meira (O Olhar Invisível, 2012) - não dá sustentação aos 95 minutos de filme.

Ha momentos em que a verossimilhança é deixada de lado e isso faz com que as boas atuações e direção sejam colocados a perder. Em certos momentos tem-se a impressão de que os roteiristas não sabiam o que fazer para atingirem o tempo de um longa-metragem e começaram a criar personagens que não são bem estruturados e reviravoltas sem sentido. Quem é do cinema sabe que um roteiro deve ser reescrito muitas e muitas vezes até atingir maturidade suficiente e ser lapidado até o ponto certo. Aqui tem-se a clara impressão de que isso não foi feito e ele foi terminado às pressas. Curiosamente, o filme tem recebido alguns prêmios em importantes festivais pelo mundo.


Toda coprodução faz exigências como ter parte da equipe e elenco de ambos os países, etc. Aqui, a participação brasileira mais evidente é da atriz Paula Cohen (O Silêncio do Céu, 2016) e do diretor de arte Marcos Pedroso (Chega de Saudade, 2007).

Apesar de uma pequena participação, a atriz faz muito bem a médica de personalidade duvidosa - algo como O Médico e o Monstro -, e fala com um castelhano impecável. O mesmo acontece com a direção de arte de Pedroso, que não à toa é considerado um dos melhores do país na função. Seu trabalho - conhecido pela forma realista com que se apresenta - utiliza de cores frias, com paredes sujas, tecidos amassados, móveis rústicos ou velhos, em contraponto ao carro caríssimo da médica protagonista, é um tremendo acerto.


Portanto, se este não faz jus à fama do cinema argentino, não deve-se à participação brasileira, que só acrescenta à obra. O grande problema está no roteiro, que não dá sustentação ao filme, que deixa a desejar. Fica a clara sensação de uma boa intensão que se perdeu pelo caminho da produção.


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