Considero João Gilberto um gênio musical absoluto. Como todo o Brasil e o mundo, eu acho. A Bossa Nova, que nasceu da batida daquele violão fantástico, associado a um jeito de entoar único e desencontrado, é uma coisa sensacional, que eu nunca deixei de ouvir, ao longo desses últimos 60 anos.
Não surpreende, portanto, que o documentarista franco-suíço Georges Gachot viesse atrás dele no Brasil, inspirado no livro HO-BA-LA-LÁ – À Procura de João Gilberto, do escritor alemão Marc Fischer. Os sonhos do escritor e os do cineasta se mesclam nessa incansável procura do recluso e estranho personagem em que João se transformou, ao longo do tempo.
O filme é sobre esse caminho, essa procura, e os fiapos de história que a preenchem. Aparecem figuras como Miúcha, a ex-mulher, e João Donato, parceiro e amigo. Mas, afinal, onde está você, João Gilberto, que ninguém sabe, nem viu, mas conviveu às vezes intensamente, até. Pergunte ao mestre do restaurante que entrega comida para ele, há tantos e tantos anos.
Um filme que foca na procura pode ser tão interessante quanto o que foca no resultado obtido. Por que não? Tudo depende da expectativa de cada um.
O diretor e roteirista Georges Gachot é um velho admirador da música brasileira. Fez em 2005 um admirável documentário sobre o trabalho de Maria Bethânia: Música É Perfume. Em 2010, outro belo documentário, amoroso e de grande profissionalismo, foi Rio Sonata, que se debruçava sobre o trabalho da cantora Nana Caymmi. Em 2014, foi a vez de O Samba, por em evidência Martinho da Vila e a Escola de Samba Unidos de Vila Isabel. Temos muito a agradecer a esse competente documentarista, que registrou em cinema de alta categoria a obra de alguns dos nossos grandes nomes da MPB. Escolhidos a dedo e com muito bom gosto.
E quanto à figura mítica do nosso talento maior, João Gilberto, terá ele conseguido resultado semelhante? Deixo a pergunta no ar.
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