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CLÍMAX (Climax)


Um salto sem paraquedas


É comum que muitos diretores tentem envolver e até induzir o espectador a uma viagem, uma imersão, em seus filmes. Poucos porém tem habilidade para tal. O que Gaspar Noé (Irreversível, 2003) consegue em Climax é algo perturbador, quase maldito. Impossível passar impune a esta experiência intensa e insana ao submundo da dança.


Após uma sessão de audições, numa noite de celebração em uma boate, um grupo de jovens dançarinos extravasa seus desejos, suas fantasias, enquanto fazem o que melhor sabem: dançar e curtir, em performances impressionantes, de extremo vigor físico. O clima é intenso e a música envolvente. A sensualidade toma conta de todos. A festa segue noite adentro, regada a Sangria (bebida típica à base de vinho e frutas), com muito flerte e azaração no ar. As emoções se tornam mais e mais intensas, os ânimos se acirram e dão lugar a uma sucessão de fatos obscuros, em um caminho sem volta.


Ainda que se quisesse, seria impossível não se envolver na viagem que propõe Noé em Climax. Assim como já fizera em seus outros filmes, vingança, sexo e violência são temas presentes nesta produção.


De maneira contundente, e quase que magnética, o espectador é levado ao centro nervoso da trama, seja por conta da trilha sonora envolvente e sedutora, pelo clima imposto por uma luz intimista, quente, muitas vezes sufocante, pela confusão de sentimentos despertados, ou pelo completo caos que se impõe.

Os personagens são apresentados em duplas e mostram seus primeiros traços de personalidade em comentários sexuais, sarcásticos e de aparente sinceridade. Em alguns casos, parece haver uma conexão quase familiar entre alguns deles, pequenas confissões são feitas e alguns segredos revelados.


A Sangria é a senhora da noite. Quando a bebem, sem perceber, todos ficam entorpecidos, e quando a razão desaparece, vem à tona o animal humano que surge com seus fantasmas, medos, neuras, perversões, fantasias e psicopatias. As emoções ficam à flor da pele. O que se vê então é uma viagem sem volta, um caminho sombrio, violência que abate um a um.


Movimentos de câmera que induzem ao desconforto, uma luz que revela sem mostrar, que aflige, que enerva, tomadas em zenital (ângulo em 90 graus, de cima pra baixo) que desafiam a mente a compor as cenas, ótimos planos sequência que colocam o espectador no centro da ação.


O diretor impõe ao espectador uma imersão involuntária e sem volta. Apresenta sua visão perturbada de mundo e de maneira sagaz introduz até o mais ingênuo a uma realidade muitas vezes distante e inacessível. Expõe as dores e as delícias do ser. As sensações são tão intensas que muitas vezes se confunde o que se sente com o que o personagem vivencia. Um salto de cabeça sem pára-quedas, uma experiência do animal humano.


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