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NÃO OLHE! (Look Away)


Combustível de Baixa Octanagem


Assaf Bernstein (No Limite da Mentira, 2010), assina a direção de Não Olhe, um filme sobre o qual foi criada certa expectativa, principalmente por ser classificado como do gênero Terror / Suspense.


O filme conta a história de Maria (India Eisley), uma garota tímida e sem amigos. Seu pai, Dan (Jason Isaacs), cirurgião conceituado, a trata com desprezo e frieza. Para ele, ela é apenas uma filha desajustada e sem perspectivas. Amy, sua mãe (Mira Sorvino), é a única pessoa que se importa com ela e que a incentiva, mas pouco pode ajudar pois vive uma vida quase vegetativa, dominada pelo marido, que a mantém sob efeito de psicotrópicos.


Cansada de sofrer bullying diariamente em sua escola, tradicional e burguesa, e de sua tediosa rotina, Maria descobre algo que muda sua forma de agir, coloca para fora todas as suas angústias e age sem piedade contra aqueles que a faziam infeliz.


Além da pouca experiência como diretor, tratar de temas tão comuns e discutidos como bullying, solidão e rejeição familiar com um viés original não é tarefa fácil, mas dizer que não teve êxito não é exatamente uma verdade. A espinha dorsal da trama é a forma como o diretor usa os mecanismos mentais da protagonista para dar uma atmosfera de terror ao filme.


Apesar da aparente aceitação de sua situação de vida, a personagem Maria, cuja rotina era o desprezo do pai, a situação servil e vegetativa da mãe e a pouca habilidade nas relações sociais, compreende a realidade das coisas, da relação de seus pais, em quem pode ou não confiar, em quem pode ou não contar. Mas como acontece com muitos na vida real, não dá vazão aos seus sentimentos, às suas revoltas. Tudo fica lá em seu subconsciente, se acumulando, e inadvertidamente cria uma personalidade paralela, um alter ego, que, se pudesse agir, faria uma reviravolta e mudaria tudo.

O ponto de virada da personagem se dá quando descobre, acidentalmente, que tivera uma irmã gêmea natimorta e inconscientemente encontra um saída para dar vazão ao seu id (responsável pelos seus instintos e desejos inconscientes), à sua revolta. Passa a ver nos espelhos seu alter ego, que a conhece completa e irrestritamente, e faz uma troca com ele, permitindo que este assuma sua vida e que conserte as coisas que entende serem erradas.


A partir daí, uma série de coisas ocorre. Algumas de fato, algumas apenas em sua cabeça - o que explica porque algumas situações não têm repercussão no filme -, como a morte de Mark, colega de escola e jogador de hóquei, seu algoz, que ela "mata" no vestiário.


Ainda assim, o filme não empolga, é morno e o espectador passa a esperar que o que venha a seguir seja algo que justifique o ingresso.


Não é que Bernstein ou Danny Rafic, o montador, tenham falhado em impor um ritmo adequado ao filme, é falta de conteúdo mesmo. A certa altura, o filme parece longo demais. Um exercício de otimismo na poltrona.


A atuação "honesta" de India Eisley não excede expectativas, porém também não decepciona. Mira Sorvino poderia ser melhor aproveitada, mas ainda assim serviu bem ao papel, que muitos atores não tão talentosos gostariam de interpretar, pois exige, principalmente, apatia.


Pode-se dizer, sem sombra de dúvidas, que se você considerar o filme do gênero Terror, ficará frustrado. Se, ao contrário, entender o processo mental da personagem e o mecanismo encontrado pelo diretor para colocar isso em prática, achará que foi uma maneira interessante de contar a história. Nada com grande "potencial explosivo". Combustível de Baixa Octanagem.


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