
Um casamento inspirado entre
O Exorcista e a Bruxa de Blair
Desde o lançamento - e tremendo sucesso de bilheteria - o filme A Bruxa de Blair (Daniel Myrick e Eduardo Sanchez, 1999) tornou-se praticamente um subgênero e foi copiado de todas as formas possíveis. Chamados de found footage, - que tem no italiano Holocausto Canibal (Ruggero Deodato, 1980) seu pioneiro -, são filmes com a famosa "câmera tremida" que simulam vídeos caseiros, quase sempre para utilizar a falta de recursos como linguagem.

Apesar do estilo desgastado por uma imensa maioria de filmes ruins, agora temos uma bela surpresa. Dirigido pela estreante irlandesa Aislinn Clarke, A Maldição da Freira utiliza do recurso de forma competente e inteligente.
O filme se passa na década de 60 e conta a história do jovem padre John (Ciaran Flynn), que vai com o padre veterano Thomas (Lalor Roddy) investigar o mistério de estátuas que choram sangue num convento que abriga mulheres orfãs, com problemas mentais e mães solteiras.
Enquanto o jovem padre está impressionado com os fatos e acredita na possível veracidade, o veterano é cético e crê que tudo tem uma explicação. Uma espécie de Padre Quevedo irlandês.
Tudo é registrado pela câmera de filmagem do padre John, que registra cada momento de forma quase científica.

O roteiro - escrito a seis mãos pela diretora com Martin Brennan e Michael B. Jackson - consegue manter o clima de suspense e superar as limitações de ter que colocar o tempo todo uma câmera em cena para registrar cada momento. É claro que se analisarmos friamente, sobra um furo aqui e outro ali, mas nada que comprometa. Afinal, se exigíssemos fidelidade absoluta dos filmes, quase nada se aproveitaria.

A diretora, apesar de estreante, também não faz feio na direção e consegue segurar o filme - que tudo aponta para um baixo orçamento - de forma competente, a ponto de tornar as limitações imperceptíveis para a maior parte do público. Ela consegue manter o clima de suspense que pouco a pouco vai se transformando em terror.
O elenco é eficiente, com destaque para Helena Bereen (Hunger, 2008), que interpreta a madre superiora. Aquele tipo rígido, misterioso, que não gosta das investigações dos padres, mas precisa suportá-los por estarem a mando do Vaticano.
A Maldição da Freira é uma verdadeira aula de como se conseguir mais com menos. Apenas uma locação - que nem deve ser um convento de verdade -, pouquíssima iluminação - justificada pela lanterna do padre e luzes naturais do local -, direção de arte simples - já que os enquadramentos são, quase sempre, muito fechados -, e poucos atores. Quatro. Basicamente.
Uma bela mistura de suspense e terror, com claras influências de filmes como A Bruxa de Blair e O Exorcista (William Friedkin, 1974). Vale o ingresso. Principalmente àqueles que fazem cinema e estão procurando melhorar suas técnicas e aumentar possibilidades.