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O SOL TAMBÉM É UMA ESTRELA (The Sun Is Also A Star)


Se a culpa é das estrelas e o sol também é uma estrela

então ele também é culpado


No início dos anos 70 tivemos o monstruoso sucesso Uma História de Amor (Arthur Hiller, 1970). Baseado em um best seller, a história simples de um rapaz que se apaixona por uma moça que tem os dias contados emocionou o mundo inteiro e a trilha sonora de Francis Lai foi o fundo musical de 9 entre 10 beijos trocados entre os jovens daquela época. O filão do filme romântico e trágico para jovens estava aberto. A partir daí houve uma enxurrada de filmes com protagonistas com doenças fatais, cegueira, paralisia, perda de memória e suicídio que, talvez, tenham sido culpados pelo aumento do nível dos oceanos de tantas lágrimas que produziram.


Quase 30 anos depois, foram as adaptações de clássicos da literatura para os tempos atuais recheados de sucessos da MTV na trilha que ditaram moda como Segundas Intenções (Roger Kumble, 1999). Este marcou época e deixou o caminho aberto para a saga da mocinha com cara de sonolenta apaixonada pelo vampirinho picolé de chuchu de Crepúsculo (Catherine Hardwicke, 2008). Essa produção melosa rendeu 4 continuações e lançou uma nova moda de romances ambientados em um mundo fantástico sempre divididos em 3 capítulos para a felicidade dos produtores. Com o desgaste da fórmula, apelaram para aquela dos nos 70 e fomos apresentados ao romance trágico com mensagem edificante A Culpa é das Estrelas (Josh Boone, 2014).


O Sol Também é uma Estrela segue na mesma vertente. A tragédia anunciada é a deportação da família jamaicana de Natasha Kingsley (Yara Shahidi) que vai acontecer em 24 horas. Convicta de ser uma perfeita “new yorker” e querer participar do “american dream”, ela corre contra o tempo e pede ajuda a um advogado que luta pelos direitos dos imigrantes. No seu caminho é encontrada por Daniel Bae (Charles Melton) que a vê na Central Station e se deslumbra com ela por estar com uma frase que ele mesmo escreveu quando acordou naquele dia: Deus ex-machina.

Esta frase define o tom do filme. Ela significa a solução inesperada de uma situação dramática, talvez a interferência de uma entidade superior usada no Teatro Grego onde os deuses do Olimpo entravam na história para definir o final. E é isso que norteia a diretora Ry Russo-Young (Sweetbitter, 2018) que dirigiu o muito eficiente drama de adolescentes Antes que eu Vá (Before I Fall, 2017). Usa sua câmera como uma entidade que sobrevoa uma Nova Iorque sem glamour hollywoodiano e trata as cenas da forma mais realista possível, apesar da história querer dizer que todo o universo conspira para que os dois jovens se conheçam e fiquem juntos. Esta é a convicção de Daniel Bae, que está em um momento de conflito, seus pais querem que ele faça medicina e ele quer ser um poeta. Naquele dia tem um encontro marcado com o mesmo advogado que Natasha está procurando, uma tremenda coincidência que vai alimentar mais ainda as convicções de Daniel.


Temos aqui o espírito dos filmes de Frank Capra (1897 - 1991) que dirigiu clássicos como Do Mundo Nada se Leva (It’s a Wonderfull Life, 1946). Neste filme, por exemplo, algo maravilhoso acontece na vida de uma pessoa comum. E no filme em questão, o divino interfere na vida do casal de jovens através dessas coincidências. Os dois, talvez, vão ter apenas 24 horas para viver um romance que pode valer por uma vida inteira. Ela pode ser deportada para a Jamaica e ele vai abandonar seu caminho de poeta se aceitar a vontade dos pais.


O filme é muito simpático e a diretora tem talento para criar uma atmosfera onírica usando imagens de aparência realista numa Nova Iorque representada pelas minorias raciais. Isto se torna um dos grandes trunfos do filme. O casal principal é formado por um rapaz coreano e uma moça afrodescendente, representantes de minorias assim como todo o elenco, fato que faz com que esse filme se destaque do geral do mainstream do cinema americano. É apresentado de forma leve e quase musical com cenas onde podemos ver devaneios dos personagens que imaginam toda uma vida que poderia se originar naquele momento ou então, pequenos documentários onde se explica certos detalhes das etnias desse imenso caldeirão étnico que é Nova Iorque.


Os dois atores que formam o casal de protagonistas estão precisando de umas aulas de interpretação e há cenas um tanto inverossímeis e, às vezes, até enjoadas com imagens fofinhas ao som de música melosa. Coisa de filme para adolescentes. Mas tudo isso não estraga o filme que tem unidade e personalidade na sua proposta de filme romântico para adolescentes. Uma coisa é certa, essa diretora tem futuro.


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