O nome dela é Jean Grey. Eu “conheci ela” no X-Men...
X-Men: Fênix Negra (Dark Phoenix, 2019) chegou com expectativas de fãs da saga que acompanharam as notícias sobre as várias refilmagens (dá para notar que a protagonista engorda e emagrece entre cenas ) e o fato de inaugurar a nova fase da Fox após ser comprada pela Disney.
Depois de ser introduzida apenas no terceiro ato de X-Men: Apocalipse (Bryan Singer, 2016), a bipolar Jean Grey (Sophie Turner) volta como protagonista principal em uma franquia dominada pelo machão Wolverine (Hugh Jackman). Com sua carinha de princesinha da Disney, Sophie Turner se esforça muito para dar peso para sua personagem, mas ainda tem muito que aprender e ainda que carregar o fardo de ser sempre lembrada como a Sansa Stark - chamada de Sonsa por espectadores malvados - da série Game of Thrones (HBO). Acaba pagando mico em cenas melosas onde o diretor dá destaque para seus belos, grandes e lacrimosos olhos. Isso mesmo, o filme tenta emocionar com a tragédia da ruivinha e dar uma explicação e justificar sua transformação na mortal Fênix Negra. Ela é um dos personagens mais complexos da saga e poderia render uma história muito interessante, fato que não acontece aqui.
O filme faz parte da nova linha do tempo dos mutantes e começa com um prólogo que não passa de um velho clichê: um trauma sofrido pelo personagem vai delinear todo seu comportamento durante o filme. Jean Grey perde os pais em um acidente e, traumatizada, é levada pelo Professor Charles Xavier (James McAvoy) que tenta ajudá-la. Anos depois, a escola de mutantes é apresentada como em todos os outros filmes e um acidente com um ônibus espacial faz com que uma turma deles precise ir ao espaço para resgatar os astronautas, cuja missão é capitaneada por Raven (Jennifer Lawrence).
A ótima atriz Jessica Chastain (A Colina Escarlate, 2015) é desperdiçada em uma atuação que mais parece uma computação gráfica ruim de tão “zumbificada”. Sophie Turner está durinha - ela precisa urgentemente de aulas de expressão corporal - agitando os braços em poses bregas que parecem uma mistura do Moisés de Charlton Heston (1923 - 2008) nas cenas da abertura do mar vermelho de Os Dez Mandamentos (Cecil B. DeMille, 1957) com a Elsa de Frozen - Uma Aventura Congelante (Chris Buck e Jennifer Lee, 2013). Dá até para imaginá-la cantando uma versão hard/mutante de Let it Go enquanto destrói as coisas em vez de congelar.
Desorientada e atormentada pelos seus traumas, Jean Grey é perseguida por alienígenas com seus motivos obscuros, amigos mutantes querendo ajudá-la e o governo que passa a considerar os mutantes como inimigos da humanidade. O barraco está armado e Simon Kinberg (Logan, 2017), estreando aqui como diretor após uma carreira de sucesso como roteirista e produtor na franquia X, tenta dar uma explicação para vários detalhes da saga. Mas o problema é que ele e se perde nessa empreitada. Talvez para deixar a protagonista bem evidente, os outros personagens apenas cumprem o papel de sempre: Magneto (Michael Fassbender) entra como vilão para depois perceber seus erros e Professor Xavier é sua antítese cumprindo o mesmo arco dramático. Os outros mutantes seguem a mesma linha com uma exceção de Raven que se destaca ao demonstrar um questionamento em relação ao grupo, fato que justifica sua transformação em vilã no futuro.
O resultado é um produto híbrido Fox/Disney. Nele, podemos ver uma espetacular sequência de pancadaria pesada e incríveis efeitos visuais envolvendo um trem no mesmo filme em que vemos ceninha triste da protagonista desamparada chorando solitária em um canto de um beco debaixo de uma chuva pesada. Ela chega a olhar para o alto com uma expressão que nos permite ler seus pensamentos: "Coitada de mim!!! Por que sofro tanto, meu Deus???!!!"
O futuro é incerto: será que a tendência para “breguice/dramalhão” da Disney destruirá a personalidade forte e ousada da Fox? Os sintomas de mutação estão aí e, se não tomarem cuidado, vão criar uma escola de mutantes parecidas com Chiquititas ou Carrossel (aqueles seriados infantis do SBT) com Jean Grey ou Raven fazendo uma Maria Joaquina paranormal e mais perigosa. O perigo é real porque uniformes bregas eles já usam.