Apostando no óbvio
Em Memórias da Dor, dirigido por Emmanuel Finkiel (Não Sou um Canalha, 2016) e livremente adaptado do romance homônimo e autobiográfico de Marguerite Duras, temos um filme tecnicamente bem realizado e bastante competente naquilo que se propõe, ou seja, um drama de época elegantemente contido, mas que aposta naquele que é, sem dúvida, um dos maiores clichês da história do cinema: filmes que têm como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial e a consequente perseguição a determinados grupos étnicos ou políticos.
Aliás, no caso específico de Memórias da Dor, temos como pano de fundo a ocupação alemã (nazista) em território francês e o consequente movimento de resistência francesa em relação à barbárie nazista ali praticada, não só com judeus-franceses, mas também contra qualquer opositor declarado à ocupação.
Embora um tanto longo - o que é até compreensível por se tratar de um drama de época -, é fato que a narrativa é bem desenvolvida, evitando que a trama caia na monotonia, o que raramente chega a acontecer aqui. Ponto para o diretor.
A protagonista é vivida com competência por Melanie Thierry (Um Novo Caminho, 2009), provando que a já longa experiência trouxe a ela também o talento dramático, além de sua incontestável beleza da qual a atriz se valia - quase que unicamente - em seus primeiros papéis no cinema.
Outra boa surpresa é a presença do cantor e compositor Benjamin Biolay (Stella, 2008) que, embora já possuísse uma relativa experiência anterior como ator, finalmente demonstra aqui, como coprotagonista da trama, ter se tornado um ator verdadeiramente viável.
Em termos gerais, portanto, o fato é que, embora não traga qualquer tipo de inovação em termos narrativos ou temáticos, Memórias da Dor é agradável de se assistir, apesar do tema pesado que aborda, pois o faz com elegância, sem carregar no melodrama que normalmente caracteriza boa parte dos filmes do gênero e também se sustenta por conta de um bom e competente elenco.