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CARCEREIROS - O FILME


A higienização da estética da violência


Saudades minhas do tempo em que o cinema praticado pelo brasiliense José Eduardo Belmonte (Alemão, 2014) ainda trazia aquele frescor característico de quem está começando, sem grandes pretensões e, sobretudo, sem um claro compromisso, seja com o grande público, seja com seus produtores.


Quem viu o extremamente barato e criativo longa de seu início de carreira A Concepção (2005, sem dúvida deve, no mínimo, sentir um estranhamento ao vê-lo agora dirigindo a mega produção Carcereiros - O Filme, inspirado, aliás, numa badalada série televisiva.


O que me causa incômodo, na verdade, não é o fato de Carcereiros tratar-se de uma mega produção. Afinal, muitos outros diretores, tanto aqui como sobretudo fora do Brasil, também tiveram um início de carreira modesto, trabalhando com pequenos orçamentos compensados por muita criatividade, etc; para depois aderirem ao esquema das grandes produções. O problema é que, em seus últimos trabalhos, Belmonte abriu mão totalmente da criatividade e originalidade que caracterizavam seu início de carreira, aderindo a um formato de "sucesso garantido", herdado em grande parte do já histórico Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002).

Falando agora sobre o filme propriamente dito, Carcereiros inegavelmente trata-se de um primor em termos técnicos: bela fotografia, movimentação de câmera precisa, efeitos especiais e de pós-produção raramente vistos no Brasil, etc. Porém, é incapaz de se libertar de certos vícios incorporados por boa parte da produção audiovisual brasileira pós Cidade de Deus, tais como: narração em off funcionando como "muleta" para facilitar e conduzir a compreensão do grande público em relação à trama, utilização de uma temática de caráter social pasteurizada e até "higienazada" pela beleza dos recursos técnicos empreendidos e diálogos "espertos" que às vezes soam um tanto artificiais.


O protagonista vivido por Rodrigo Lombardi (O Olho e a Faca, 2017), acerta ao tentar falar "a linguagem da cadeia", que visa tornar verossímil a trama. Porém, ver o galã televisivo falando como uma espécie de "mano da periferia", sinceramente não me convence. Na verdade, acho que ele não acertou no tom de sua atuação, embora, segundo disse o próprio durante a coletiva de imprensa realizada em São Paulo após a sessão fechada do filme, tenha conversado com vários carcereiros reais ao longo de seu processo de preparação para o personagem, ouvindo suas histórias e dramas pessoais vividos durante sua rotina de trabalho.


Merece destaque especial a divertida e super competente atuação de Jackson Antunes (A Festa da Menina Morta, 2008) como um militar de caráter bastante duvidoso que será responsável, em grande parte, pelo desfecho da trama.


Em resumo, Carcereiros - O Filme realmente prima muito mais por seus méritos técnicos, dada a grandiosidade da produção, do que por qualquer tipo de originalidade ou frescor em termos narrativos.


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