Uma tentativa de cinema de gênero
Em O Juízo, o diretor Andrucha Waddington (Casa de Areia, 2005) se propõe a realizar um filme na linha do suspense/terror a partir de um roteiro escrito por Fernanda Torres (O Que É Isso, Companheiro?, 1997). Mas o fato é que o resultado fica bem aquém do esperado.
Pois, conforme lembra a própria roteirista durante a coletiva de imprensa realizada após a exibição em primeira mão do filme na última segunda-feira (02/12), "tanto o suspense quanto o terror, são gêneros que possuem regras próprias, visto que estamos o tempo todo nos equilibrando numa linha tênue que separa o medo do riso".
No entanto, Fernanda Torres parece desconhecer, ou no mínimo não estar muito familiarizada em relação a essas "regras". As aspas aqui, aliás, se devem ao fato de que tais regras na verdade não estão escritas em lugar nenhum. Não há necessariamente qualquer manual que nos ensine a como gerar medo, empatia ou até mesmo riso por parte do público. A grande verdade é que se descobre como funciona esse mecanismo ou "fórmula" capas de produzir ou conduzir nosso público-alvo a todo de reações em relação ao que produzimos vendo filmes. Aliás, muitos filmes, de todos os gêneros e sobretudo aqueles dirigidos pelos mestres de cada um dos principais gêneros cinematográficos.
O papel do diretor (e não só do roteirista) é também fundamental no sentido de conduzir o público a tais reações almejadas. Nesse ponto, apesar de sua longa experiência com a teledramaturgia e também com a linguagem cinematográfica propriamente dita, Andrucha não foi mesmo feliz em sua primeira experiência com um filme de gênero. A trama (ou narrativa) de O Juízo não flui como deveria. Seu ritmo é arrastado e não há nem mesmo um clímax na história. Tudo é muito previsível e contado de forma desinteressante.
Quanto ao elenco, apesar de sua longa experiência, o protagonista Felipe Camargo (Jogo Subterrâneo, 2005), deixa a desejar em termos de atuação. O cantor e compositor Criolo (Luz nas Trevas, 2010), por outro lado, apesar da pouca experiência como ator, não faz feio frente às câmeras. A co-protagonista, Carol Castro (Perigosa Obsessão, 2004), por sua vez, basicamente cumpre a função de embelezar a tela.
Válido enquanto tentativa de cinema de gênero no cinema brasileiro contemporâneo, O Juízo comprova, sobretudo, a pouca familiaridade que boa parte dos diretores e roteiristas brasileiros demonstram em relação a tal tipo de cinema teoricamente voltado ao grande público e com pretensões comerciais. Mas, conforme dito acima, é praticando que se aprende a fazer do jeito certo.