
A Rússia apresenta suas armas: para o Oscar 2020
Uma Mulher Alta, longa dirigido por Kantemir Bagalov (Tesnota, 2018), parte de um interessante (embora trágico) ponto de vista, abordando com muita crueza e objetividade o difícil cotidiano pós Segunda Guerra ao qual estão destinadas as personagens vividas pelas jovens e estreantes atrizes Ksenia Kutepova e Vasilia Perelygina.

Enquanto o tradicional pólo de produção cinematográfica europeu, formado sobretudo por França e Itália, demonstra um evidente esgotamento temático ou mesmo criativo, a Rússia, surpreendentemente, parece mesmo chegar com força à disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com este pungente drama de época.
A crueza das relações humanas, sobretudo num contexto em que à miséria e exclusão batem à porta de muitos num país recentemente saído (embora vitorioso) de uma guerra sangrenta, faz com que as máscaras daqueles que estão em posição privilegiada, seja da caráter político ou econômico, caiam imediatamente, revelando toda a podridão de tais indivíduos na busca pela satisfação imediata de seus interesses.
É fato porém que, apesar de seus evidentes méritos, devido à desnecessária duração de 2 horas e 17 minutos, às vezes pesa um pouco, perdendo seu agradável ritmo inicial e tornando-se um tanto arrastado a partir de sua segunda metade. Mas isso não chega a comprometer o filme que, em termos gerais, está bem acima da média do que o cinema contemporâneo de caráter mais autoral tem nos apresentado.

Merece ainda destaque o ótimo trabalho de arte em termos de reconstituição de época e composição de figurinos, optando por mesclar cores frias e quentes (tanto na cenografia quanto nos figurinos), fazendo assim uma clara menção à dualidade de sentimentos e até mesmo de caráter apresentado pelas personagens centrais: Lya (Ksenia Kutepova) e Masha (Vasilia Perelygina), ambas estreantes, jovens, belas e muito talentosas.
É, a Rússia chega mesmo com força e apresentando suas armas para o Oscar 2020.