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CINEDROPS: PARASITA

Adoraria ter gostado tanto de Parasita como a maioria dos meus conhecidos, mas não, acho que serei o chato da festa mais uma vez. Talvez por ter ido com a expectativa alta demais, saí decepcionado. Não me entendam mal. Curti o filme e minha filha adolescente adorou, o que é ótimo sinal.


Há uma universalidade ali e sou fã de carteirinha do cinema sul-coreano muito antes de virar modinha. Há tempos que eu digo por aqui que se tivesse vinte anos, e quisesse estudar cinema, iria para a KAFA, que tem um modelo que defendo importarmos para cá. Difícil para mim questionar um filme que é tecnicamente impecável, superior a muita coisa que vi este ano. Mas o padrão alcançado pelo cinema de lá permite este distanciamento.

O elenco está perfeito, o roteiro é milimetrado, a direção é primorosa, porém... infelizmente o discurso se sobrepõe à história e isso é mortal para mim. Quando percebo que estão tentando me doutrinar, sinto muito, me desapego na hora.


Como sempre brinco, gosto quando me doutrinam sem que eu perceba. De certa forma, cinema é como show de mágica. Você sabe que tudo aquilo é mentira, mas gosta de ser entretido pelo truque. O mágico diz uma coisa, a mão dele faz outra, e o público acha que tudo aquilo que viu é a mais pura verdade. Daí o encanto, o mistério predomina. Se o mágico deixa aparecer a cordinha, ou o coelho se mexer no fundo falso da cartola, ou o pombo se agitar na manga, o truque e a mágica se perdem. E é exatamente isso o que acontece com Parasita.


Qualquer olhar mais atento ou experiente percebe o truque, a mensagem social subjacente me deu canseira soporífera. Conforme a história avançava eu me sentia assistindo uma novela das oito do Gilberto Braga com "crítica social" condensada em uma hora e meia de filme. Mais uma vez é história de rico trouxa e pobre esperto. Mais uma vez é empregado explorado por patrão. Mais uma vez é a dúvida de quem é parasita de quem. Mais uma vez é revanche. Mais uma vez é violência como solução do insolúvel. Mais uma vez é niilismo contra tudo isso que está aí. O porre de sempre.


Desculpem, sou velho, não caio nisso há muito tempo. Fora que, pela enésima vez, trata-se de um filme vendido como comédia e que abre mão da graça. Tudo bem, eu sei que a estrutura é de comédia e há um semi-vaudeville interessante no clímax do terceiro ato. Mas quando a única solução de uma trama é - SPOILER AQUI - alguém enlouquecer e sair matando todo mundo, sinto muito, não consigo respeitar. É solução fácil. Aliás, achei todas assim, e a coda muito, muito longa.


Para que explicar tanto? De quebra fica a certeza de que Cannes realmente esclerosou de vez. Sério mesmo que este é o melhor filme do ano? Como já disse várias vezes aqui, o festival da Côte D'azur é a prova de que francês premiando cinema consegue ser pior do que americano premiando vinho. Não é nada demais.


 
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