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O MELHOR ESTÁ POR VIR (Le Meilleur Reste à Venir)


Extraindo maravilhas do cotidiano

Normalmente somos levados a crer que o cinema francês, com exceção do grande ator/diretor Jacques Tati (1907- 1982) não possui uma verdadeira tradição, ou melhor, "vocação" para a comédia, devido ao caráter mais autoral e portanto "cerebral" que sempre vigorou na quase totalidade da produção cinematográfica francesa por várias décadas (e de certo modo vigora até hoje).


Por isso mesmo, é sempre uma agradável surpresa quando surgem novos filmes que desmentem essa tão alardeada "falta de vocação para o humor" por parte dos realizadores franceses, como é o caso da simpática e divertida comédia O Melhor está por Vir, dirigida por Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellieri (ambos também realizadores de Relacionamento à Francesa, 2016).

Amparados por um ótimo elenco, com destaque para a dupla de protagonistas Patrick Bruel (Paris-Manhattan, 2013) e, sobretudo, para Fabrice Luchini (A Garota de Mônaco, 2008). O timing desta dupla é perfeito, tanto para a comédia quanto para o drama, aliás, permitindo a ambos extraírem humor até mesmo de situações que normalmente seriam vistas como bastante pesadas, envolvendo, por exemplo, o grave estado de saúde em que um deles se encontra. Mas nada aqui envolve apelação ou mau gosto na forma como as situações são apresentadas, pelo contrário, a leveza com a qual tal tema é aqui abordado só nos permite criar uma absoluta empatia pelos personagens. Portanto, ponto também para a dupla de diretores/roteiristas, Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellieri pela singeleza com que conduzem esta trama.

O veterano Fabrice Luchini realmente conduz seu personagem, um autêntico estereótipo do sujeito chato e metódico com maestria. Poucos atores no cinema francês contemporâneo - talvez com exceção apenas de Daniel Auteuil (A Outra Mulher, 2018) - são capazes de mesclar com tanta perfeição elementos de drama e humor na composição de seus personagens como ele aqui o faz.

Patrick Bruel por sua vez, também não deixa quase nada a desejar na composição de seu personagem, um autêntico bon vivant que adora seu amigo certinho e antiquado, chegando inclusive a paparicá-lo bastante, mas, claro, utilizando apenas o cartão de crédito do próprio amigo para presenteá-lo (risos).

"O Melhor está por Vir", uma boa prova de que os franceses sabem sim (e às vezes até muito bem) como nos fazerem rir.


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