O Fundo do Poço
O longa de estreia do cineasta espanhol Galder Gaztelu-Urrutia, disponível pela Netflix, parte de uma premissa simples:
Uma prisão vertical com centenas de andares. Em cada piso há dois prisioneiros. No meio da prisão, um poço pelo qual passa um elevador trazendo alimento. Para em cada andar por apenas dois minutos. As pessoas comem o que podem rapidamente, pois é proibido armazenar. Os prisioneiros de cima tem toda comida à disposição e podem se empanturrar. Mas à medida que o elevador desce, vai sobrando cada vez menos o que comer. Nos andares inferiores, as pessoas são obrigadas a se contentarem com restos, sendo que, obviamente, não sobra nada para os prisioneiros do primeiro piso inferior.
O filme tem, portanto, uma temática simples, mas sua execução é excelente, apresentando uma nítida crítica ao capitalismo, onde as classes superiores se esbaldam, enquanto as inferiores morrem de fome.
Porém, O Poço vai bem além disso, mostra a inevitável mudança de comportamento dos comunistas quando estão no poder, pois quando os prisioneiros dos andares mais baixos vão para os andares de cima, se comportam da mesma forma ou até pior do que aqueles que anteriormente estavam ali.
O filme conta com uma edição dinâmica e, apesar dos atores espanhóis serem pouco conhecidos pelo grande público e dos poucos personagens em cena, consegue prender a atenção, com uma história forte, repleta de cenas chocantes, utilizando efeitos práticos e optando por um final aberto a interpretações.
Tudo isso faz de O Poço um filmaço, daqueles que te fazem pensar e querer ter várias conversas com os amigos pra discutí-lo. Dando margem, inclusive, a diversas interpretações quanto ao final e também sobre todo o seu enredo.
Cada vez mais o novo mercado cinematográfico mostra-se aberto a novas opções fora do eixo hollywoodiano, nos brindando com ótimas produções. Assim como foi o caso do filme coreano Parasita (Bong Joon Ho, 2019), creio que O Poço terá muitas chances de concorrer às principais premiações do Cinema.