O equilíbrio entre o convencional e o experimento
Assim como fez em Macbeth: Ambição e Guerra (2015), o diretor australiano Justin Kurzel continua buscando o equilíbrio entre a narrativa convencional e o experimento visual em A Verdadeira História de Ned Kelly.
Mas em oposição à narrativa psicológica que predominava em "Macbeth", com muitas cenas editadas em câmera lenta inclusive, aqui em seu novo trabalho, predomina o ritmo ágil e com cenas de ação bem coreografadas, equilibradas porém, com momentos de puro delírio visual de caráter onírico.
Momentos estes que me fazem até lembrar um clássico do "faroeste psicodélico", dirigido pelo italiano Enzo Castellari: Renegade Riders (1967).
A construção psicológica do protagonista, aliás, parece ter extrema importância para o diretor, visto que ele parece tentar justificar cada uma das ações violentas do famigerado fora da lei australiano, Ned Kelly (personagem real e extremamente popular no final do século XIX), por meio da recorrência ao seu passado de exclusão social e desagregação familiar; afinal, sua própria mãe à qual ele tanto amava o teria entregado, ainda garoto, aos cuidados de um perigoso foragido da justiça, sob o argumento de que isso "o tornaria um homem de verdade e independente".
À essa altura, merece destaque o fato de que o tal mentor/tutor do ainda jovem Kelly (Harry Power), é aqui vivido por um quase irreconhecível Russell Crowe (roliço e barbudo), muito distante de seus áureos como galã em Gladiador (Ridley Scott, 2000), por exemplo.
Entre altos e baixos, Justin Kurzel nem sempre acerta ao buscar o equilíbrio entre os momentos de ação e delírio visual quase psicodélico da trama, mas em termos gerais o bom elenco, com destaque para o jovem George Mackay (Tolkien, 2020), que está ótimo como protagonista, associado a uma boa produção, tornam o resultado bem satisfatório.
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