UM FEITIÇO QUE VIROU CONTRA O FEITICEIRO
por Karina Kiss
Logo nos primeiros instantes de AmarAção podemos observar que há um esforço no sentido de se lançar um longa-metragem de guerrilha com qualidade numa época e que as verbas públicas estão reduzidas e o movimento nos cinemas escasso por conta da pandemia. O filme, uma comédia romântica em moldes documentais, é protagonizado, dirigido e roteirizado por por Eric Belhassen (Por que Você Partiu, 2013), traz em seu elenco um vasto e seleto grupo de atores como Caco Ciocler (Um Namorado Para Minha Mulher, 2014), Clarice Abujamra (Como Nossos Pais, 2017), Ana Carolina Godoy (Turma da Mônica - Laços, 2019) e outros.
Na trama, Eric (Eric Belhassen), após se separar de sua mulher, desenvolve sintomas físicos e psicológicos nos quais acredita ter sido "enfeitiçado" por ela. Ao mesmo tempo, seu amigo Caco (Caco Ciocler) passa por um processo de separação conjugal no qual pensa em recuperar seu amor através da magia. Para tais confusões ambos terão que se redimir com as suas respectivas ex-mulheres para saberem a verdade sobre a magia do amor.
A produção teve cenas filmadas em três países: Brasil, França e Israel, o que confere um colorido diversificado à fotografia. No entanto, há uma estranha trocadilho no título, que brinca com os termos "amarração" e "armação". Abordar tema religioso é assunto sempre delicado, mesmo em se tratando de uma comédia. No longa a temática gira em torno de religiões de raízes africanas de maneira um tanto errônea e superficial, onde há falta de respeito em alguns momentos. É uma história que faz sentido, mas que necessitaria de uma maior delicadeza, ainda mais por se tratar de uma religião que já sofre diversos preconceitos. Por outro lado, falando sobre a dramaturgia em si, o manjado enredo dramático sobre um ex que sofre com a perda e abandono torna-se pedante e desinteressante por ser cansativo e repetitivo. Há muitas incongruências, como a falta de sensibilidade e significado claro na trama. No entanto, devemos levar em conta que, no cenário atual, o simples fato de se colocar um filme autoral em meio à pandemia nos cinemas já é um ato louvável.
Em termos técnicos é um filme que poderia passar sua mensagem em um curta-metragem ou assumir de vez seu viés documental. Isso seria mais interessante e pouparia a repetição de tantas idas e vindas na história. Parece que há várias lacunas a serem preenchidas por todos os personagens que fazem com a história fique desconexa o suficiente, a ponto de termos vontade de avançarmos logo para o final, se assim fosse possível.
A incongruência em se filmar em três países diferentes apenas por questões estéticas, é algo fugaz. Assim como não se faz necessário tantas explicações sobre o que seria a tal amarração. Contudo, este não é mesmo um filme que, de fato, veio para "amarrar" a atenção de ninguém.
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