
A NOSSA INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO E DA MANIPULAÇÃO
por Vicente Vianna
O paulistano André Bushatsky, cineasta, roteirista, produtor de audiovisual que já ganhou prêmio no FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil com o curta-metragem de animação que dirigiu e roteirizou chamado Miss Dollar (2014), baseado no conto de Machado de Assis. Além de participar do Festival Anima Mundi, escrever roteiros para o desenho infantil Peixonauta, também assinou a direção de programas para o Disney Channel, entre eles Make Your Mark, My Life, Disney Planet e os documentais Palavra Falada e A Arte de ser Músico.

Agora com o documentário Brasileiríssima envereda pelo impacto cultural e social da telenovela no Brasil. Pelo título noto o orgulho que o autor sente do nosso país ter um produto audiovisual comparável ao Cinema de Hollywood com relação aos Estados Unidos. Da mesma forma que os americanos impuseram ao mundo o “American way of life”, as nossas novelas, principalmente as da Rede Globo, fizeram o mesmo em todo Brasil e em alguns países de língua portuguesa.
De um lado, os americanos querendo impor ao mundo pós guerras as suas crenças, consumismo numa padronização social e, do outro, as novelas brasileiras fugindo da censura dos governos militares (antes no teatro) querendo também mostrar valores e o modo de vida que estávamos vivendo e influenciar para onde deveríamos seguir. Além de também, é claro, fomentar o mercado com venda de produtos e serviços. Porém a criatividade do brasileiro não para por aí, usa-se as novelas como serviço social, abraçando as minorias e causas nobres.
Bushatsky não fica só nos depoimentos de quem fez e faz a teledramaturgia no Brasil, ele vai atrás do público e, como numa novela, usa os recursos de trilha sonora e imagens de cobertura, emociona com suas histórias de transformação. Tanto aqui no Brasil como em Portugal, como é o caso de uma deficiente visual portuguesa, fã do ator brasileiro Tony Ramos.

Não existe documentário totalmente isento, por mais neutro que um documentarista queira relatar aquele fato, acaba tendo o seu ponto de vista enaltecido. Aqui em Brasileiríssima, por exemplo, é colocado que a novela Cheias de Charme (2012) foi responsável pela lei da empregada doméstica, mas não fala de várias novelas onde a empregada era subserviente.

Porém, mesmo sendo produzido pela Globo Filmes, o documentário não deixa de citar que, depois da ditadura, o diretor da Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho - o Boni - mantinha uma censura sobre os assuntos que as novelas iam tratar. Tem outros depoimentos que relatam essa efemeridade da televisão. Uma janela que, da mesma forma nos mostra coisas boas também mostra coisas ruins.
Brasileiríssima é um documentário para ser visto por todos os públicos, os mais velhos terão um certo saudosismo e os mais jovens conhecerão mais um pouco da história da nossa teledramaturgia. E ambos não vão poder negar a grande importância da novela na vida dos brasileiros.
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