UM CABO DE GUERRA FAMILIAR
por Karina Kiss
Apelação emotivo-judicial em forma de roteiro baseada no livro homônimo de Robert Kimmel Smith. A história mostra o jovem Peter (Oakes Fegley) se vendo obrigado a ceder seu quarto quando seu avô Ed se machuca em um incidente e precisa do auxílio de seus pais. Indignado com a situação, Peter se vê obrigado a entrar num cenário de conflitos com seu próprio avô para resgatar sua parte na casa em vez de ir morar provisoriamente no porão.
O avô ranzinza, magistralmente interpretado por Robert De Niro (O Irlandês, 2019) se vê em meio a uma linha de defesa e fogo cruzado, entre a tristeza pela perda de sua falecida mulher e a nova situação familiar envolvendo a filha e o genro, respectivamente interpretados por Uma Thurman (Kill Bill, 2013) e Rob Rigle (Sol da Meia-Noite, 2018).
O roteiro apela para várias situações mirabolantes e clichês com o intuito de tentar causar simpatia e bons momentos para os espectadores mais jovens. Há, no máximo, duas ou três situações dignas de nota em termos de comicidade, o restante das ações, em sua grande maioria, equivalem à reciclagem de outras diversas produções do gênero. Acaba parecendo uma mera continuidade Denis - O Pimentinha (Nick Castle, 1993), mesclado a momentos de Esqueceram de Mim (Chris Columbus, 1992), ou seja, é um mero desperdício do talento do ótimo elenco envolvido na recente produção.
O diretor Tim Hill (Alvim e os Esquilos, 2007) poderia ter feito um filme incrível, caso não tivesse se perdido do início ao fim. Ele transforma um personagem, solitário e triste no início, num mero velho rabugento e sagaz em pouquíssimo tempo. Logo percebemos que a mudança soa como mera conveniência de roteiro. Embora o filme não seja apenas isso, vários momentos são mal aproveitados para se preservar uma comicidade passageira.
Peter inicia a sexta série, enfrentando as típicas dificuldades de ser um pré-adolescente que sofre com os alunos das turmas mais avançadas, afetando assim seu desempenho escolar. Ed é o típico idoso que estamos acostumados a conhecer: teimoso, cisma que consegue resolver tudo a sua maneira, sem reconhecer as limitações impostas pela idade.
Há cenas e fatos desnecessários e desgastantes que no decorrer da trama se perdem ou volta e meia são esquecidos, novamente visando favorecer as pegadinhas que se sucedem. O que é colocado como ponto central do conflito entre avô e neto, ou seja, a posse do quarto, na verdade é algo que não faz sentido, pois tanto Ed quanto Peter sabem que só tem a perder com o prolongamento da situação. Incomoda, portanto, a repetição dessa questão sem moderação. A personagem Sally é afetada pela disputa entre o pai e o filho em duas situações bastante estressantes, prejudicando o "feeling" de comédia que tanto se almeja para a trama. Essa construção é preguiçosa e desmedida. Sendo, no decorrer da história, novamente esquecida, mais uma vez buscando favorecer as pegadinhas cômicas que se sucedem.
No fim das contas, o estilo Sessão da Tarde se sobressai, com uma historiazinha morna que acaba forçando muitas piadas para serem engraçadas, mas que não o são. O texto tenta trazer algumas situações que já foram dramáticas para o gênero comédia, coisa que atualmente pode até causar certo desconforto. Existe o momento de troca de confidências entre avô e neto para que a história vá se transformando ao longo do tempo, justamente para gerar a humanização do conflito entre eles. A princípio trata a tal guerra como se fosse apenas uma brincadeira do neto que acabou indo longe demais.
Como todo filme de Sessão da Tarde, nos dá aquele conforto em meio a tantas notícias caóticas do mundo real e atual.
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