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MARIA LUIZA (idem)



UM DAVID CONTRA UM GOLIAS BRASILEIRO


A primeira imagem deste documentário é uma pessoa penteando cabelos de uma espiga de milho ainda na planta. Não sabemos o que é e, logo depois, somos apresentados a uma senhora um tanto tímida, humilde e de fala calma. Trata-se de Maria Luiza que começa a contar a sua vida e descobrimos que ela usava as espigas ainda com suas cabeleiras para servirem de bonecas, ela nasceu menino e desde pequena queria brincar de bonecas e, como só recebia brinquedos de menino, esse era o único jeito de viver a infância de menina que ela queria.



Assim começa o primeiro documentário de longa metragem de Marcelo Dìaz (Terra de Luz, 2016) que conta a história da primeira transexual das Forças Armadas Brasileiras. O fruto de uma produção que levou dois anos para ser feita, com inúmeros encontros com a retratada e pessoas que fizeram parte da sua longa e difícil jornada para primeiro se tornar a mulher que sempre desejou ser e, depois, para ter seus direitos reconhecidos como mulher e como integrante das Forças Armadas, mais precisamente da Aeronáutica.


É um filme feito com sensibilidade, que aproveita ao máximo o relato da retratada que serenamente descreve sua infância no interior, seu amor pelos aviões, seus conflitos durante o crescimento e o afloramento do seu desejo de mudar de sexo com os posteriores problemas que isso acarretou.

Sua trajetória é sofrida, ela chegou a entrar para a carreira militar e, depois de 20 anos, chegou ao posto de cabo da Força Aérea Brasileira. Após ter se casado e ter uma filha, aos 40 anos, decidiu assumir sua condição de transexual e lutar por seus direitos.


Apesar de ter uma ficha de militar absolutamente irretocável, ela não recebeu o tratamento merecido por parte da Aeronáutica que, muitas vezes a tratou como doente mental. Apesar de passar por situações para lá de humilhantes, sua vontade férrea de seguir em frente não diminuiu nem um pouco. Aqui temos uma luta de uma versão feminina de Davi contra um Golias repleto de estrelas nos ombros e preconceitos na cabeça.


Vale a pena conhecer sua trajetória e vê-la como um exemplo de alguém que luta por aquilo que sempre sonhou. Definitivamente uma bela lição de vida. E esta produção mostra muito bem o que se passa na mente de uma pessoa como Maria Luiza. Só faltou uma melhor contextualização sobre a época em que tudo isso aconteceu. Talvez por acharem que não precisa disso por termos aqui uma história que, infelizmente, ainda se repete em vários cantos do Brasil. Há milhares de “Marias Luizas”.



 

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