UM FILME MENOR PARA UMA DEUSA SUPREMA
por Ricardo Corsetti
"A Tropicália foi um movimento majoritariamente masculino, embora sua principal e definitiva voz tenha sido Gal Costa". Assim falou Lô Politi (Sol, 2021), codiretora, durante a coletiva de imprensa pós-sessão de Meu Nome é Gal.
Cinebiografia bem intencionada, porém um tanto decepcionante, sobre uma das incontestáveis maiores cantoras da história da música brasileira: Gal Costa. Um autêntico arquétipo da cultura brasileira, ao longo de ao menos três décadas, aliás. Por isso mesmo, com certeza, Gal merecia um filme melhor.
O primeiro problema, a meu ver, é a extremamente curta duração do filme: apenas 1 hora e 26 minutos de duração. Fato que, por um lado, caso fosse bem utilizado poderia ter atuado no sentido de gerar um filme "enxuto e objetivo". Mas, definitivamente não é isso que vemos aqui, mas sim, a clara sensação de incompletude.
Obviamente, é compreensível a opção por situar a história do filme/cinebiografia entre meados dos anos 60 e início dos anos 70, mais especificamente até 1972, época da gravação do ultra-clássico álbum "Gal Fatal - A Todo Vapor". É fato que aí se situa a "fase de ouro" da carreira de Gal, bem como do movimento tropicalista. No entanto, a aparente pressa em se contar e apresentar os fatos relacionados a esse período acaba por gerar essa já mencionada sensação de incompletude no que se refere a vida/carreira deste ícone supremo e longevo de nossa historiografia.
Quanto ao elenco, Sophie Charlotte (O Rio do Desejo, 2023) está bem como protagonista, apresentando um desempenho satisfatório (mas longe de ser sublime), chegando a cantar de verdade (e até que bem) em algumas cenas. Merecem também destaque, a Dedé Gadelha (melhor amiga de Gal e futura primeira esposa de Caetano Veloso), vivida por Camila Márdila (Que Horas Ela Volta?, 2015) e sobretudo, o icônico Caetano Veloso, vivido por Rodrigo Lélis (Life S.A., 2018), talvez a melhor atuação do filme, diga-se de passagem.
Mas, outra coisa que me incomodou foi a verdadeira enxurrada de merchandising gritando na tela do cinema em diversas sequências do filme, de Hering a Almanara, todo tipo de produto foi "vendido". Obs: sim, é claro que eu entendo a necessidade de se agradecer aos patrocinadores privados, mas, convenhamos, levantar verba pública para se produzir um filme sobre uma diva da cultura brasileira, tal como Gal Costa e, ainda por cima, com a garantia de se ter uma estrela global (Sophie Charlotte) como protagonista, é relativamente fácil. Portanto, sem dúvida, tais "agradecimentos" poderiam ter ocorrido de uma forma mais discreta e menos vexatória, não é mesmo?
A direção a cargo da veterana Lô Politi e também da estreante Dandara Ferreira, em termos gerais, é competente, apesar das já mencionadas derrapadas, sobretudo em termos narrativos. A fotografia é boa, bem como o competente trabalho de reconstituição de época da direção de arte. Mas ainda é pouco, muito pouco, dentro do esperado para uma cinebiografia à altura de Gal Costa. Que pena.
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