QUEM CAI NA ARMADILHA É O ESPECTADOR
por Antonio de Freitas
O primeiro desenho animado do famoso ratinho Mickey Mouse, o Vapor Willie (Steam Boat Willie, 1928) passou para o Domínio Público e, portanto, teve o mesmo destino de seu companheiro um pouco menos famoso - Ursinho Pooh - acabou nas garras de um diretor oportunista que, faminto de sucesso, resolveu embarcar na onda de filmes que transformam personagens de fábulas infantis em figuras de apelativos filmes de terror com orçamentos baixíssimos e completamente destituídos de talento.
Mouse Trap (2024) começa parodiando os créditos da lendária saga Guerra nas Estrelas (Star Wars, 1977). A sensação é que vamos ver um daqueles filmes que tentam recriar o sucesso daquelas paródias de gêneros do cinema que fizeram a festa dos espectadores nos anos 80, mas somos apresentados a um filme de terror que tenta ter momentos de comédia de humor negro com ridículas e poucas inspiradas cenas que acabam virando pura vergonha alheia. E ainda copiam a franquia Pânico (Scream, 1996) tentando inserir diálogos de metalinguagem onde os atores citam as regras de filmes de terror e parecem admitir saber que são personagens de um filme do gênero.
A história é contada por uma moça punk que está presa e sendo interrogada por dois policiais. Sabemos que houve uma chacina e ela é um dos sobreviventes. Somos apresentados a duas funcionárias de uma imensa Casa de Diversão com games e parque de brinquedos, que até é uma bela locação com muitas oportunidades de se criar cenas interessantes. Pena que isso não acontece.
As duas ficam fazendo hora extra após o fechamento e tem uma surpresa com a chegada de um grupo de amigos, que foram ali para fazer uma festa surpresa de aniversário para uma delas. A surpresa acaba sendo do espectador porque esse grupo é composto com os piores atores e atrizes que se tem notícia. A coisa piora ainda mais por terem as mais pobres e desmilinguidas caracterizações dos mais do que batidos tipinhos de filmes de terror. Estão ali o garotão “badboy”, a safada da turma, o esportista, a loirinha tonta, o nerd, a punk e o esportista. Juntos conseguem dar um espetáculo de raríssima falta de talento ao falar roboticamente os diálogos para lá de pobres.
A situação está construída. Eles ficam trancados ali dentro e aparece um tipo com uma máscara de Mickey afim de trucidar os adolescentes “fakes” interpretados por atores com mais de 25 anos. A origem desse assassino é uma coisa sem pé nem cabeça e seria melhor imaginar que é o espírito do Mickey que ficou revoltado diante de um filme tão ruim. Não assusta, não diverte e nem mostra cenas de mortes violentas porque tudo é mostrado de forma sutil ou fora do quadro. E a ação é sempre interrompida pelas cenas da punk que conta a história deixando o ritmo do filme mais desengonçado ainda.
É uma produção que não consegue nem chegar perto do baixíssimo nível dos filmes da mais do que infame produtora Asylum, cujos filmes idiotas de tubarão ficam parecidos com grandes obras clássicas se forem comparadas com essa coisa que nem merece ser chamada de filme. A tradução do título é "Armadilha de Rato", mas está montada para os espectadores serem as vítimas.
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