A UNIÃO FAZ A FORÇA
por Antônio de Freitas
O Último Pub começa com uma apresentação através de uma espécie de história em quadrinhos com fotos em preto e branco acompanhada de diálogos, já demonstrando a linguagem documental característica do diretor Ken Loach (Você Não Estava Aqui, 2019). Em poucos minutos, somos informados que uma família de refugiados sírios acabou de chegar na pequena cidade inglesa de Durhan e vai se instalar em uma das inúmeras casas geminadas do lugar. Isso não é visto com bons olhos por vários habitantes que presenciam a chegada e fazem questão de demonstrar sua hostilidade. A van que traz a mudança é circundada por valentões locais e um deles quebra a câmera da adolescente Yara, vivida pela novata Ebla Mari, que estava tirando fotos da rua antes de sair do veículo.
O solitário dono do pub local T.J. Ballantyne - interpretado por Dave Turner (Você Não Estava Aqui, 2019), - se solidariza com a família e ajuda Yara a se livrar do rapaz. Ela, mais tarde, o procura no trabalho para agradecer e pedir para que a ajude a identificar o valentão. Isso é o gatilho para o início de uma amizade e PJ embarca na missão de ajudar aqueles refugiados a se adaptarem a sua nova moradia e enfrentarem a rejeição dos moradores locais. E presenteia Yara com uma antiga câmera fotográfica de seu pai cujas fotos documentando a vida da cidade decoram o pub já decadente e apenas frequentando por senhores de idade.
Inspirada pela exposição do pai de PJ e conduzida por ele, a fotojornalista iniciante fotografa a cidade e seus habitantes. Pouco a pouco ela se dá conta de que eles representam duas tragédias: a da cidade que perdeu a mina que dava empregos e a da guerra que destruiu a vida de Yara. Notando que a hostilidade da cidade é uma válvula de escape da pressão exercida pela péssima situação em que se encontram os habitantes e, baseada nas experiências da guerra na Síria, Yara vai propor que tentem reviver o pub de PJ para que ele volte a ser um ponto de encontro dos moradores. Assim, passando por cima das diferenças culturais, poderiam se unir para enfrentar juntos os problemas que assolam aquele local.
Essa luta da dupla torna-se a espinha dorsal de um filme repleto de pequenos e belos momentos da vida real. As fotografias de Yara são exibidas no pub e leva os habitantes dali a darem uma olhada em si mesmos, em uma das várias cenas simbólicas interpretadas por um elenco que é feito na maioria por pessoas comuns. Esta é uma característica forte dos filmes de Ken Loach: elenco de novatos, não profissionais e muita improvisação em locações reais. Ele cria cenas, personagens e histórias que refletem problemas atuais que vemos em notícias e vídeos na Internet. No caso desse filme é a queda do padrão de vida da Europa após a mudança do cenário econômico mundial que leva a polarização ideológica, violência e xenofobia.
Para uma população frustrada, a culpa é sempre dos outros. No caso, os imigrantes. Mas nesse filme, com delicadeza e muita poesia, Ken Loach mostra a história de uma pequena tentativa de estabelecer um diálogo entre pessoas que, apesar de serem tão diferentes, podem carregar consigo mesmas sentimentos iguais.
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