AS DIFERENTES FACES DE UM MESMO SANTO HOMEM
por Ricardo Corsetti
O espanhol Antônio Maria Claret (1807-1870), figura de extrema relevância para o catolicismo moderno, é o objetivo desta competente cinebiografia dirigida pelo, também espanhol, Pablo Moreno (Luz de Soledad, 2016).
Pouco tempo após ser ordenado sacerdote, Claret logo se destaca por suas atitudes não convencionais em relação à exclusão social em sua terra natal e ao, evidentemente, incomodar a elite econômica de seu país, é estrategicamente enviado a Santiago de Cuba, sendo que, nesse momento, a pequena ilha ainda pertencia à coroa espanhola. Lá, Claret é nomeado arcebispo local.
Mas o sempre contestador Claret, não tarda a também incomodar a elite agrária cubana, ao se posicionar veementemente contra a manutenção da escravidão na ilha.
Em função disso, Claret é enviado de volta à Espanha e, surpreendentemente, escolhido pela própria rainha Isabel II para ser seu confessor oficial e assim, obviamente, passa a viver confinado na corte espanhola, cercado pelo luxo e riqueza aos quais ele havia renegado até então.
Nesse momento, o filme perde força e se torna até um tanto tedioso, adotando um formato novelesco e sem a clareza e profundidade que seriam necessárias para analisarmos e tentarmos compreender as contradições que habitavam em Claret: em sua breve passagem por Cuba, manifestando uma postura de engajamento social - quase socialista - e pouco tempo depois, ao retornar à Espanha, se convertendo num monarquista conservador.
Mas O Santo de Todos, além de ser bastante interessante e competente ao retratar Claret em sua juventude contestadora na primeira metade do filme, também apresenta outras qualidades, tais como o excelente trabalho de reconstituição de época em termos de cenografia e figurinos. E, sem dúvida, vale uma boa conferida.
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