UMA TENTATIVA DE HORROR À BRASILEIRA
por Ricardo Corsetti
Eu sempre costumo dizer que, nas últimas décadas, o Brasil (ou os cineastas brasileiros, no caso) "desaprendeu" a fazer cinema de gênero propriamente dito. Em grande parte, creio que se deve, sim, ao ego descomunal apresentado por certos diretores/cineastas brasileiros, que julgam o cinema de gênero como "algo menor" se comparado aos filmes ditos "autorais".
Nesse sentido, a recente nova onda de filmes do gênero terror, sobretudo, que vem sendo praticada por alguns diretores mais contemporâneos, aqui no Brasil, é no mínimo válida e interessante, apesar da qualidade e resultado discutível de algumas produções desta safra, tais como: o ao menos mediano O Caseiro (Júlio Santi, 2018) e o pavoroso (no pior sentido do termo) O Rastro (J.C. Feyer, 2017).
Nesse sentido, Possessões - filme de estreia do diretor e roteirista televisivo Tiago Santiago -, sim, ele mesmo, o autor da, digamos assim, no mínimo polêmica telenovela Os Mutantes (2008-2009); tem seus méritos, seja pela iniciativa de ousar ser um filme claramente de gênero, num país que, conforme já mencionei, não costuma valorizar tal iniciativa; seja pelo bom elenco escalado.
Porém, até mesmo pela clara inexperiência do diretor/roteirista em relação à linguagem cinematográfica propriamente dita, gera, fatalmente, outro problema bastante característico da cinematografia brasileira contemporânea: a não compreensão de que Cinema é uma coisa, TV é outra..
Enfim, a presença dos veteranos: Antônio Pitanga (A Grande Cidade, 1966) e da, há tempos sumida, Ittala Nandi ("Os Deuses e os Mortos, 1970); além é claro, do sempre ótimo Marcelo Serrado ("Crô - O Filme", 2008), garantem, no mínimo, verossimilhança a seus respectivos personagens, nos três segmentos (não necessariamente interligados) que compõem "Possessões".
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