
Mundo Cão, de Marcos Jorge, o mesmo diretor do bem sucedido Estômago, em 2007, é um filme de suspense que se destaca pelo excelente roteiro e pelas grandes atuações do seu elenco.
A trama parte de um personagem, Santana (Babu Santana), que trabalha no Instituto de Zoonose, no que no passado era conhecido como A Carrocinha, um local onde os cães encontrados soltos eram sacrificados após três dias sem que seus donos reclamassem por eles. Isso vigorou até que a lei que proíbe o sacrifício de animais fosse sancionada em 2007.

O filme se situa no período imediatamente anterior a essa lei e constrói uma história de confronto e vingança que envolve o funcionário Santana e o “bandido” Nenê (Lázaro Ramos), este inconformado com o sacrifício de seu animal.
A narrativa, muito bem construída e recheada de detalhes muito bem urdidos, nos surpreende com bastante frequência, inovando nas situações e nas soluções. Tudo perfeitamente crível, apesar do susto que provoca no espectador. Um roteiro original tão bem montado e trabalhado não é fácil de se encontrar, no cinema brasileiro ou fora dele. Exige uma carpintaria dos criadores que é bem trabalhosa. Mundo Cão é um sucesso evidente, nesse sentido. A ponto de que não se possa falar mais sobre o enredo do filme, sem comprometer o prazer do público em ser surpreendido pelos fatos e eventos que compõem sua história.

Atores e atrizes com atuações destacadas valorizam enormemente a trama. Lázaro Ramos é um fora da lei ardiloso, assustador, mas sempre verdadeiro em sua humanidade. Quando domina o ambiente, é tranquilo e cínico, acuado, mostra tensão e desespero, sem nunca perder a força e a inteligência. Desempenho notável de um dos melhores atores de sua geração.

Babu Santana também brilha, como o homem comum, com uma profissão incomum, que exige coragem, mas não heroísmo. Amedronta-se diante de uma arma, é capaz de grande ternura com a família e também de alcançar limites inimagináveis, tomado pela vingança e pelo medo.
Adriana Esteves, esposa e mãe prestimosa e moralista, conquista o público desde a primeira sequência e surpreende quando sai de cena. Thainá Duarte, a filha surda-muda, é uma bela revelação e o menino João (Vini Carvalho), que tem destaque na trama, se sai muito bem. Paulinho Serra, Milhem Cortaz e todo o restante do elenco compõem uma bela equipe que sustenta uma produção das mais competentes do cinema nacional atual.