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RETRATOS DA IRRACIONALIDADE HUMANA


por Ricardo Corsetti


Em primeiro lugar, é simplesmente impossível não destacar as qualidades técnicas do filme: linda fotografia (aliás, o conceito de "fotografia", é fundamental para o desenvolvimento da trama), ótima direção a cargo do talentoso diretor britânico Alex Garland (Aniquilação, 2018), além, é claro, do competente e carismático elenco.


Outra coisa que chama a atenção em Guerra Civil é o inglês, praticamente perfeito, falado por Wagner Moura (Cidade Baixa, 2002) ao encarnar, pasmem, um norte-americano nato no filme.

Sem qualquer resquício de sotaque identificável, o astro brasileiro encarna - com perfeição - um "cidadão da Flórida", esbanjando talento e muito carisma a cada segundo em que aparece em cena. E um detalhe importantíssimo: seu personagem realmente tem papel fundamental na trama, em pé de igualdade com a fotógrafa vivida pela estrela hollywoodiana Kirsten Dunst (Maria Antonieta, 2006) e, de certo modo, até como a real protagonista do filme, vivida pela atual "namoradinha da América" Cailee Spaeny (Priscilla, 2023). É, Mr. Moura, seu momento de conquistar o mundo realmente chegou.



Talvez o único senão de Guerra Civil seja a não clareza quanto aos seus reais objetivos ao retratar essa tal guerra civil fictícia. Pois, ao ver anteriormente o trailer do filme, por exemplo, fiquei com a impressão de se tratar de um filme "trumpista". Após assisti-lo de fato, no entanto, em alguns momentos Garland (também roteirista do filme) parece estar criticando e até satirizando o extremismo político gerado pelo excesso de "americanismo patriótico" que, sobretudo nos últimos anos, se acirrou nos EUA gerando, consequentemente, racismo e xenofobia, coisas que, aliás, são retratadas por meio de algumas situações e personagens secundários do filme.


Enfim, creio que, antes de tudo, Guerra Civil deve ser visto como um ótimo filme de entretenimento que, não por acaso, chega a emular o ritmo de determinados jogos eletrônicos de guerra, talvez até para ironizar a banalidade com que vemos diariamente e nos tornamos até, quase que indiferentes, a cenas de guerras reais que, neste exato momento, estão em andamento mundo afora.


Ah, o desenho de som de Guerra Civil também é um show à parte. Além, é claro, da já citada fotografia lindíssima.

Por fim, vale mencionar que a linda e talentosa Cailee Spaeny só não rouba toda a atenção do espectador para si própria, graças a presença do novo "latin lover" do cinema norte-americano: Wagner Moura (risos).




TODOS OS SONS AO REDOR


por Antônio de Freitas


A primeira pergunta que se faz ao ver o título deste filme é sobre o motivo de serem 32 e não milhões, uma vez que na Terra deveremos ter muito mais do que isso em tipos de emissão sonora. O motivo, após pesquisa, foi descoberto e trata-se de uma menção ao trabalho de Glen Gould, um pianista que criou 32 peças musicais em cima das Variações Gould de Bach que foram homenageadas em 1993 em um filme que, com certeza, mereceu a atenção do diretor do filme em questão: Sam Green (Annea Lockwood/ A film about Listening, 2021). Um diretor de documentários com uma carreira de peso que teve uma de suas obras indicada ao Oscar de Melhor Documentário em 2004, (Tempo de Protesto, 2003).


Analisar e divulgar a multiplicidade das formas de se expressar da humanidade é o que move este cineasta que agora nos apresenta um documentário sobre a importância dos sons na nossa vida. Tenta discutir qual a nossa relação com ele, como nos emociona assim com o captamos. O início do filme é algo belíssimo, com a apresentação do primeiro som que todos os humanos escutam pela primeira vez na vida:  o som dos batimentos cardíacos da mãe que chegam até o útero.


Partindo desse poético momento, ele nos conduz por uma odisseia através do tempo passando pelas primeiras teorias do Século XIX, pela invenção do fonógrafo, o rádio, o cinema falado e até pelo fenômeno das discotecas quando nos bombardeiam pesado com os clássicos de Donna Summer (1948 - 2012). Cria, portanto, uma verdadeira experiência sensorial onde o narrador, às vezes, convida o espectador a fechar os olhos para melhor apreciar o som que apresenta nas suas mais diversas formas e fontes.


Uma das partes mais fascinantes do documentário são as cenas com a criadora de efeitos sonoros Joanna Fang (O Homem Invisível, 2020) que demonstra como os estes efeitos são fabricados para filmes. Geralmente não são feitos com computadores, mas pela maneira tradicional, usando artefatos físicos para criar a ilusão de algo acontecendo no filme, seja um animal caminhando, uma pedra se quebrando ou alguém sendo esfaqueado. No final da cena, Fang comenta que o som “fake” muitas vezes soa melhor do que o real.


Quando preciso, a trilha sonora é feita por compositores e artistas sonoros de vanguarda, alguns ainda vivos e em plena atividade, como a grande Annea Lockwood, e outros que já se foram, como Pauline Oliveros (1932-2016), John Cage (1912-1992) e a parceira de Lockwood, Ruth Anderson (1928 – 2019). Representantes de peso de outro universo a ser descoberto pelo espectador que tem a possibilidade de experimentar uma obra que só aumenta e enriquece nossa percepção do mundo.

 






PUBLICIDADE RELIGIOSA


por Antônio de Freitas


Estamos vivendo uma época em que a vida real e do cidadão comum alcan

çou a mídia através dos milhões de posts veiculados pela internet. E pegando carona nessa “vibe”, os documentários conseguiram um nicho de espectadores e se tornaram uma forte opção dentro dos meios de comunicação. Depois da Morte (Stephen Gray e Chris Radtke, 2023) chegou surfando na fama do Angel Studios, que fez estardalhaço com o lançamento do filme O Som da Liberdade (Alejandro Monteverde, 2023), que alcançou muita visibilidade com a bandeira de ter sido parcialmente produzido com a ajuda do “crowdfunding” (processo pelo qual os espectadores doam somas em dinheiro por se interessar pela proposta do filme). Daí, ganhou distribuição mundial e a exibição em muitos cinemas com essa aura de produção independente e, portanto, sem ligações com os interesses das grandes corporações de mídia.


Logo no início vemos um piloto que relata o desastre que sofreu quando realizava uma decolagem e a experiência que teve ao se ver fora do corpo e observar de cima os destroços do avião e, entre eles, o seu corpo inerte para depois voltar a ele quando é ressuscitado pelos paramédicos. O depoimento do homem e as recriações das cenas que narra são feitas com esmero. A fotografia é requintada assim como as recriações dos eventos narrados. Bela fotografia, efeitos de som e imagem de alto nível com quase mesmerizantes e psicodélicas imagens geradas por computador representando momentos de êxtase ou a tal luz que se vê quando estamos indo para o “beleléu”.


O que vem depois é uma série de relatos de pessoas que sofreram acidentes ou com doenças terminais que se viram sendo levadas para uma luz, recebidas por parentes já falecidos ou mesmo falando com Jesus que diz que não é a hora da pessoa partir e a manda de volta para seu corpo. Tudo isso sendo corroborado por depoimentos de médicos, especialistas e até aqueles que socorreram ou presenciaram a agonia da vítima do evento. Tudo feito com altos valores de produção com imagens muito bem trabalhadas e embaladas por uma trilha sonora de peso. Uma mistura que dá muita credibilidade ao documentário e a capacidade de emocionar e convencer certos espectadores.


Mas é apenas uma compilação de tudo que já foi mostrado ou dito em centenas de produções menores como aquelas séries de TV ou Streaming onde temos relatos de eventos paranormais apresentados por alguma estrela do cinema. Não há um questionamento, discussão ou mesmo um olhar diferente de pessoas ou especialistas de uma outra religião. O que vemos ali é apenas a visão Cristã que todo mundo do meio já ouviu falar. Pesa apenas pelo tamanho, número de casos e acabamento refinado de um conceito que todo mundo conhece. É apenas uma embalagem sofisticada para um produto vazio que não tem nada para acrescentar a esse campo. Uma verdadeira peça de publicidade religiosa que quer vender como verdade absoluta um conceito baseado apenas na visão de uma só cultura.

 



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