
MÉXICO PARA ESTRANGEIROS
por Ricardo Corsetti
Baseado em tudo aquilo que eu já havia lido ou ouvido a respeito de Emilia Pérez, antes de fato ver o filme, talvez a melhor coisa que eu possa dizer sobre o filme é que ele é menos pavoroso do que eu esperava. O que não significa, necessariamente, que seja um grande filme. Longe disso, aliás.

A propósito, de onde a crítica "especializada" concluiu que o filme era digno de 13 indicações ao Oscar 2024, só mesmo Freud (ou o Rivotril) talvez possa explicar... (risos)
O ponto alto aqui, sem dúvida, são as atuações de Karla Sofia Gascon (Diga Sim, 2004) e, sobretudo, Zoe Saldana (Avatar, 2009). Inclusive, é fato que o filme é muito mais da personagem vivida por Saldana do que da própria protagonista "Emilia" (vivida por Gascon).
Já quanto à popstar Selena Gomez (Spring Breakers, 2012), vivendo sua primeira "vilã", o tom de sua atuação é um tanto exagerado. Sem dúvida, faltou a ela buscar o auxílio de um bom preparador de elenco.
Curiosamente, quando vi algumas sequências aleatórias do filme, previamente, me pareceu que seus números musicais eram mal coreografados. Impressão essa, porém, que se desfez no momento em que, finalmente, vi o filme em sua versão completa.

O diretor francês Jacques Audiard, autor, por exemplo, do ótimo O Profeta (2009), em sua primeira produção estrangeira, se mostra um tanto desengonçado, ao reproduzir um típico "México para turistas", ou seja, aquele típico misto de sensualidade à flor da pele, com muita violência e miséria, por outro lado.
Obs: e suas recentes desastrosas declarações a respeito do México, em entrevistas que tem dado à imprensa internacional a respeito do filme, só comprovam seu total desconhecimento a respeito do "México real".
Há, sim, sensibilidade na forma como se constrói e se apresenta a personagem vivida por Karla Sofia Gascon. Em alguns momentos a trama chega até a lembrar um Almodóvar dos velhos tempos (Matador, 1986, por exemplo), mas tudo ocorre de uma forma um tanto desengonçada. Deixando transparecer que, no fundo, Emilia Pérez é muito mais um produto que visa atender a uma demanda por pseudo "inclusão social" do que um filme realmente feito com honestidade de propósitos.
Em resumo, "Emilia Pérez": um fenômeno, a longo prazo, tão descartável quanto capa de chuva pós-verão.

PARAÍSO DOS NERDS
por Ricardo Corsetti
Visto que, obviamente, o filme em questão se destina, primordialmente, aos aficcionados pelo célebre jogo de videogame Sonic da geração SEGA e como eu, particularmente, perdi o interesse por jogos eletrônicos desde os tempos do ATARI, GEMINI, SUPER GAME CCE, etc - lá nos longínquos anos 80 e início dos 90 - é um tanto difícil para mim, ter empatia ou mesmo um real interesse por Sonic 3.

Dito isso, não por acaso, foi mais fácil para mim - espectador novato dos personagens apresentados - me indentificar com o vilão da trama, no caso, o angustiado e rebelde Shadow, dublado originalmente na versão em inglês por Keanu Reeves (Matrix, 1999).
Em termos técnicos, um filme realmente bem realizado em termos de direção e efeitos especiais. Ao contrário do que ocorre em outras produções norte-americanas recentes, nas quais o excesso e má qualidade dos efeitos em CGI (computação gráfica) são gritantes, comprometendo o resultado geral. Aqui, os efeitos me parecerem bem realizados e até verossimeis.
Mas, creio que a pergunta que realmente não quer calar em relação a Sonic 3, é mesmo: Qual teria sido o tamanho do cachê pago a Jim Carrey para que ele voltasse a viver o personagem Doutor Robotnik? Afinal, não era ele mesmo quem, até então, vinha se autodeclarando "aposentado"?

É, meus caros, realmente todo mundo tem seu preço (risos).
Em resumo, um filme para aficcionados, com bom ritmo narrativo, personagens relativamente bem construídos e carismáticos, mas, sem grandes novidades.
Minha menção honrosa ao vilão "boa praça", Shadow. Aliás, quanto mais se descobre aos poucos sobre seu passado, mais fácil será se identificar com ele. Fica a dica.

QUEM CAI NA ARMADILHA É O ESPECTADOR
por Antonio de Freitas
O primeiro desenho animado do famoso ratinho Mickey Mouse, o Vapor Willie (Steam Boat Willie, 1928) passou para o Domínio Público e, portanto, teve o mesmo destino de seu companheiro um pouco menos famoso - Ursinho Pooh - acabou nas garras de um diretor oportunista que, faminto de sucesso, resolveu embarcar na onda de filmes que transformam personagens de fábulas infantis em figuras de apelativos filmes de terror com orçamentos baixíssimos e completamente destituídos de talento.

Mouse Trap (2024) começa parodiando os créditos da lendária saga Guerra nas Estrelas (Star Wars, 1977). A sensação é que vamos ver um daqueles filmes que tentam recriar o sucesso daquelas paródias de gêneros do cinema que fizeram a festa dos espectadores nos anos 80, mas somos apresentados a um filme de terror que tenta ter momentos de comédia de humor negro com ridículas e poucas inspiradas cenas que acabam virando pura vergonha alheia. E ainda copiam a franquia Pânico (Scream, 1996) tentando inserir diálogos de metalinguagem onde os atores citam as regras de filmes de terror e parecem admitir saber que são personagens de um filme do gênero.
A história é contada por uma moça punk que está presa e sendo interrogada por dois policiais. Sabemos que houve uma chacina e ela é um dos sobreviventes. Somos apresentados a duas funcionárias de uma imensa Casa de Diversão com games e parque de brinquedos, que até é uma bela locação com muitas oportunidades de se criar cenas interessantes. Pena que isso não acontece.

As duas ficam fazendo hora extra após o fechamento e tem uma surpresa com a chegada de um grupo de amigos, que foram ali para fazer uma festa surpresa de aniversário para uma delas. A surpresa acaba sendo do espectador porque esse grupo é composto com os piores atores e atrizes que se tem notícia. A coisa piora ainda mais por terem as mais pobres e desmilinguidas caracterizações dos mais do que batidos tipinhos de filmes de terror. Estão ali o garotão “badboy”, a safada da turma, o esportista, a loirinha tonta, o nerd, a punk e o esportista. Juntos conseguem dar um espetáculo de raríssima falta de talento ao falar roboticamente os diálogos para lá de pobres.

A situação está construída. Eles ficam trancados ali dentro e aparece um tipo com uma máscara de Mickey afim de trucidar os adolescentes “fakes” interpretados por atores com mais de 25 anos. A origem desse assassino é uma coisa sem pé nem cabeça e seria melhor imaginar que é o espírito do Mickey que ficou revoltado diante de um filme tão ruim. Não assusta, não diverte e nem mostra cenas de mortes violentas porque tudo é mostrado de forma sutil ou fora do quadro. E a ação é sempre interrompida pelas cenas da punk que conta a história deixando o ritmo do filme mais desengonçado ainda.
É uma produção que não consegue nem chegar perto do baixíssimo nível dos filmes da mais do que infame produtora Asylum, cujos filmes idiotas de tubarão ficam parecidos com grandes obras clássicas se forem comparadas com essa coisa que nem merece ser chamada de filme. A tradução do título é "Armadilha de Rato", mas está montada para os espectadores serem as vítimas.