
SAGA INFINDÁVEL
por Ricardo Corsetti
É fato que a jovem dupla de diretores Tyler Gillett e Matt Bettinelli-Olpin (Casamento Sangrento, 2019) conseguiu o que parecia ser simplesmente impossível, ou seja, revitalizar a saga iniciada em 1996 pelo grande e saudoso Wes Craven (diretor) e Kevin Willianson (roteirista), idealizadores do já imortal Pânico (1996).
E o que é melhor: respeitando o legado deixado pelos já citados criadores da mais famosa e bem sucedida franquia dos anos 90.

No entanto, a necessidade (ou opção) de parecer "inteligente" o tempo todo - à qual "Pânico 6" se auto-impõe - por meio do frequente uso da metalinguagem, visando satirizar/reverenciar todos os clichês do subgênero slasher, soa um tanto artificial em certos momentos. Mas nada que chegue a comprometer o bom resultado em termos gerais.
A fidelidade a uma regra fundamental à realização de um bom slasher, ou seja, a violência explícita, com sangue jorrando na tela a cada 5 minutos de filme, é um dos pontos altos da trama.
Porém, um pecado capital é também aqui cometido, graças à concessão aos padrões politicamente corretos e ao neo-moralismo contemporâneo que, fatalmente, resulta na realização de um filme pudico e assexuado. Sim, não há uma única cena de sexo ao longo de toda a trama.

Ora, qualquer fã minimamente familiarizado com o universo e regras do subgênero sabe que slasher sem sexo é, digamos assim, como churrasquinho de rua sem farofa: insípido.
A boa direção, que confere ritmo ágil e o elenco carismático, capitaneado pela bela Melissa Barrera (Um Bairro em Nova York, 2021) e também pela atual queridinha de Hollywood Jenna Ortega (Wandinha, 2022) equilibram o jogo e, apesar das ressalvas mencionadas, tornam Pânico 6 agradável de ser assistido. E, convenhamos, quase 30 anos após o início da - aparentemente infindável - franquia, termos um sexto episódio minimamente "assistível", sem dúvida, já está de bom tamanho.

MAIS DO MESMO, COM ALGUMA PERSONALIDADE
por Ricardo Corsetti
É fato que qualquer fã de cinema de horror, minimamente familiarizado com as convenções e clássicos absolutos do gênero, percebe de imediato, que 13 Exorcismos bebe direta e fartamente de duas fontes/ referências básicas: Carrie, A Estranha" (Brian De Palma, 1976), por conta de sua protagonista claramente oprimida pelo fanatismo religioso (católico) de sua mãe e, em segundo lugar, O Exorcista (William Friedkin, 1973) no desenvolvimento da trama.

Mas isso não significa que 13 Exorcismos seja, necessariamente, um filme ruim ou sem qualquer personalidade. Pois o diretor Jacobo Martinez, embora estreante nessa função, conduz a trama com razoável desenvoltura, embora, convenhamos, seja difícil nos convencer, enquanto expectadores, que num espaço de tempo tão curto (já que o filme possui apenas 1h40 min.), de fato, ocorreram 13 Exorcismos (rs).
Mas, felizmente, o carisma e boas atuações dos personagens envolvidos na história, compensam alguns deslizes em termos narrativos.
O fato de se tratar de um filme espanhol (latino) acaba, fatalmente, reforçando o caráter um tanto melodramático da trama. Mas isso não é propriamente um problema, pelo contrário, pois acaba conferindo um humor quase involuntário, em determinadas situações.

A boa trilha sonora também colabora bastante no sentido de manter o clima de tensão constante ao longo de todo o filme.
Longe de ser o mais original ou criativo filme de horror nos últimos anos, 13 Exorcismos, porém, cumpre relativamente bem sua função enquanto entretenimento descompromissado.

HUMOR CONTUNDENTE
por Ricardo Corsetti
"Nós trabalhamos com algo que tem assegurado a democracia ao redor do mundo: granadas. Anteriormente, nosso principal produto, eram 'bombas anti-pessoais', também conhecidas como, minas terrestres". Eis apenas um pequeno exemplo da fina e deliciosa ironia que percorre toda a trama de Triângulo da Tristeza, filme vencedor da Palma de Ouro, na última edição do Festival de Cannes, escrito e dirigido pelo sueco Ruben Ostlund (The Square - A Arte da Discórdia, 2018).

Toda a hipocrisia que caracteriza o mundo contemporâneo, presente no discurso de "igualdade de gêneros, racial e social" - vendida pelo universo da publicidade e da moda, por exemplo - é aqui desmontada com muito senso de humor, visando revelar que na prática, o que nos cerca diariamente é um reino de preconceitos de toda a natureza, filtrado por muita hipocrisia e afetação.
Destaque para a cena em que uma rica senhora européia, dentro de uma jacuzzi e tomando champagne francês, diz à funcionária do navio que a serve: "No fundo, somos todos iguais". E claro, o desfecho em que temos uma espécie de vingança do proletariado contra seus "cordiais" opressores, também é digna de nota.

A presença da bela e charmosíssima atriz sul-africana Charlbi Dean (Don't Sleep, 2017) - recentemente falecida, aliás - vivendo a top model Yaya, também merece destaque.

Obs.: Ecos de As Invasões Bárbaras (2003) do franco-canadense Denys Arcand, são facilmente identificáveis no humor inteligente e relativamente intectualizado que caracteriza todo o filme.
Obs. 2: Salvo a duração um tanto desnecessariamente longa (2h37 min.), na maior parte do tempo é mesmo uma delícia acompanhar as situações vividas em Triângulo da Tristeza, tais como o hilário embate entre um oligarca do Leste Europeu e o divertidíssimo capitão de navio marxista, vivido pelo sempre ótimo Woody Harrelson (Assassinos por Natureza, 1994).
E você aí, meu caro, já comprou sua "bota de pedreiro customizada" da Balenciaga por módicos 10 mil reais e assim ajudou a tornar o mundo um lugar pior, quer dizer, melhor?