Muito romance e pouco anarquismo
Fazer um filme de época é difícil, principalmente quando aborda um acontecimento político. Isso é bem mais complicado, então o filme francês Os Anarquistas tinham muito o que provar, ao abordar essa parte da história que mudou o curso do mundo moderno político, e fiquei ansioso com tal premissa.
Jean Albertini (Tahar Rahim) é um policial que aceitou a missão de se infiltrar em um grupo anarquista, no século XIX, sendo encarregado de fornecer informações sobre todos os Anarquistas, contudo ele começa a desenvolver sentimentos, se apaixona por Judith Lorillard (Adèle Exarchopoulos) e se identifica com os ideais políticos dentro da célula, questionando os superiores e sua moral. De fato, essa parte da história política precisa ser abordada em um longa-metragem. Fiquei estupefato ao entrar na sala de cinema - ansioso para ver - e logo meu entusiasmo virou decepção ao perceber que estava vendo um romance de época sem inspiração. Totalmente genérico, esquece de focar a história nos anarquistas, perdendo uma ótima oportunidade de retratar essa revolução política na França.
O trabalho de arte é lindo. Somado à fotografia, deixa sublime a representação fiel do passado em que a narrativa se passa. O elenco trabalha com o que tem, e sabe entregar uma cena convincente. O problema fica por conta do roteiro, que ao invés de abordar o mundo dos anarquistas prefere se concentrar em um casal clichê, perdendo a originalidade que tal enredo poderia proporcionar.
A direção de Elie Wajeman (Minha Querida Dama, 2014) parece um tanto quanto perdida, o longa lembra muitas vezes as novelas da TV Globo, com todas as viradas narrativas que só a emissora pode oferecer. Rapidamente Os Anarquistas ficou entediante, o protagonista não tem um conflito forte, pois sabemos que ele nunca vai ao extremo contra os superiores.
Filmes hollywoodianos já abordaram a mesma história e foram bem sucedidos por serem ambíguos, forçando o personagem principal ao limite entre o sonho e a realidade, coisa que não acontece aqui, onde tudo é absorvido com um bocejo.
No final a falta de inspiração é notável. Triste saber o potencial desperdiçado, onde se esperava ideais políticos vemos beijos e abraços. E ter essa inconsistência é uma pena. Espero que não seja a única tentativa dos Anarquistas no mundo do cinema, que algum filme faça jus às suas histórias e legado político.