Uma continuação sem perder a qualidade
Uma das franquias que cimentaram o gênero de super-heróis no cinema chega a um período onde os filmes de quadrinhos podem estar com os dias contados. Assim como outros tipos de filmes tiveram seus dias de glória, o mesmo destino pode chegar para os mutantes.
O filme continua 10 anos depois de Dias de um Futuro Esquecido (2014). Todos deram andamento com suas vidas, Xavier (James McAvoy) e Fera (Nicholas Hoult) abriram de vez a Escola para Superdotados. Mística (Jennifer Lawrence) ajuda mutantes pelo mundo e Magneto (Michael Fassbender) agora tem uma família. Humanos e mutantes podem finalmente viver em paz, até uma nova ameaça surgir no horizonte, trazendo o Apocalipse (Oscar Isaac).
É um mérito - depois de tantas continuações - os X-Men não deixarem a "bola cair". Vindo de duas reformulações, os Homo Superiores voltam para contar uma nova história, agora abordando os temas fé e religião, trazendo um vilão antagônico para os heróis, quebrando paradigmas, refletindo nossa sociedade dentro do mundo mutante.
X-Men: Apocalipse não é diferente, pois isso é a chave principal da franquia. O filme tem o mesmo problema que todas as histórias dos mutantes tem: ritmo. Existem muitos personagens - todos carismáticos - e para colocá-los em um longa-metragem de duas horas é um desafio. Isso aconteceu no filme anterior (Dias de um Futuro Esquecido, 2014), contudo o diretor Brian Singer (X-Men, 2000) se prova um ótimo regente dessa sinfonia, cuidadoso com os detalhes do mundo que criou, aprimorando esse que sempre foi o problema dos filmes originais. O diretor consegue manejar bem a "química" dos antigos e novos personagens, trazendo nossos favoritos como Noturno (Kodi Smit-McPhee) de volta.
James McAvoy (Em Transe, 2013) e Michael Fassbender (Macbeth: Ambição & Guerra, 2015) dão um show novamente como Magneto e Professor X. A dinâmica entre os personagens e os conflitos que enfrentam são sólidos, o mesmo pode ser dito para o elenco restante, no qual todos tem sua hora de brilhar e conquistar o público. Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes: Em Chamas, 2013) como Mística segue a evolução do personagem, ela não se transforma em uma Katniss Everdeen do Jogos Vorazes, mas sim um amadurecimento da própria personagem. O trailer vendeu mal sua personagem.
Todos os outros fazem um ótimo trabalho reestruturando personagens que são importantes para o mundo dos X-Men, como Jean Grey (Sophie Turner), Ciclope (Tye Sheridan) e Tempestade (Alexandra Shipp), além de repetir a magia com Mercúrio (Evan Peters), tendo um destaque fantástico. Oscar Isaac (Ex Machina: Instinto Artificial, 2015) faz com seu Apocalipse um líder religioso humilde que esconde um lado negro. Seu desempenho no personagem é cativante, divide a tela com tantos outros e não tem o devido tempo, mesmo assim usa e abusa dos minutos que lhe cabem. Apesar de ser diferente da sua contraparte nos quadrinhos, Apocalipse sabe ser tão ameaçador quanto o original, mantendo seu espírito no cinema.
Todo o universo mutante que Brian Singer criou no cinema, está bem representado aqui nesse filme, sabendo agradar ao público que gosta de uma narrativa sofisticada e o outro que quer ver apenas novas explosões.
Admito que eu duvidei quando entrei no cinema, achando que o filme seria uma "bomba", porém estava errado. O Apocalipse consegue se manter como um filme próprio, abordando os mutantes e suas próprias dúvidas, melhorando a cada cena. Brian Singer não apresenta nenhuma novidade, além do vilão. Diferente das outras adaptações de quadrinhos, esse é um filme consistente, não tenta inovar, além de continuar a jornada dos heróis no cinema. Fato que X-Men: Apocalipse é um bom filme, quer você queria ou não, só não é algo novo.