
Um estudo sobre gerações
As Montanhas que se Separam aborda questionamentos humanos dentro das nossas escolhas e suas consequências para com a gerações futuras. Um assunto interessante de se levantar, principalmente em uma época que rotulamos uma geração inteira de “milênios”.

Tudo começa em 1999 - na virada do milênio - onde a personagem principal Tao (Zhao Tao) é confrontada com uma escolha: qual dos amigos de infância - divididos socialmente - se tornará seu marido, gerando consequência para todos os envolvidos, indo de 2014 a o futuro de 2025.
O diretor chinês Jia Zhang-ke (Um Toque de Pecado, 2013) não tem medo de usar alegorias no seu longa, usando a economia como metáfora, tendo como objetivo discursar sobre as gerações e o que deixamos para nossos filhos. Isso funciona muito bem em certas partes, já em outras a mensagem fica repetitiva, o que arrasta um pouco o desenvolvimento dos personagens que não evoluem tornando-se estereótipos de seu tempo. De qualquer forma, abre espaço para o estudo entre as gerações.
A película parece curtas-metragens reunidos para se tornarem um só, provocando um sentimento de lacuna, potencializado pela ambiguidade da narrativa transparecendo na divisão dos três protagonistas. Cada um deles com sua época e suas consequências, retratados por uma fotografia pontual.

A cada época, o filme utiliza-se de uma câmera correspondente ao período, refletindo uma evolução da história. É nítido o quanto a tecnologia nos separa, como um simples fone de ouvido muda o modo de você compartilhar a música.

O elenco é competente em apresentar personagens sólidos. Apesar da ambição de criar uma história milenar, questionando sobre a identidade deixada no passado, o filme nunca se eleva para uma linha vertical, caminhando apenas em horizontal, mesmo que tenha espaço para criar algo do gênero.
No final, o diretor consegue criar uma história milenar, semelhante à sociedade em que vivemos, perdidos em nossa própria obsessão de crescer, sem nos importarmos de como afetaremos gerações futuras. Como um simples desejo pode virar uma bola de neve, então nos perdemos tentando desesperadamente nos achar.