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JULIETA


Almodóvar, porém desgastado

Sempre que o espanhol Pedro Almodóvar lança um filme surge um grande alvoroço e curiosidade da imprensa e do público mais atento a filmes de arte. Após o ótimo A Pele que Habito (2011) e o fraco Os Amantes Passageiros (2013), o diretor apresenta Julieta.


Na trama, Julieta (Emma Suarez) vive com Lorenzo (Dario Grandinetti) e estão mudando-se da Espanha para Portugal. Por coincidência, encontra uma antiga amiga de sua filha desaparecida que conta - sem saber do desaparecimento - que a encontrou casualmente. A partir daí, a protagonista recorda sua juventude até o desaparecimento da garota.


Como se percebe na própria sinopse, o cineasta espanhol - que assina seus próprios roteiros - abusa da coincidência em benefício de sua história. Em roteiro costuma-se dizer: quando uma coincidência coloca o personagem numa enrascada é ótimo, mas quando tira dela é péssimo.


Além das coincidências, o filme segura um clima de semi suspense em quase todo o tempo, porém essa expectativa não se cumpre. O mesmo ocorre com o desfecho, onde o público acredita que haverá uma grande resolução, mas não recebe o esperado.


O elenco é um ponto positivo, com belas atuações de Suarez, Grandinetti - apesar de pequena - e principalmente de Rossy de Palma (O que eu fiz para merecer isso?, 2014), antiga parceira do diretor que interpreta uma empregada do primeiro marido de Julieta. A direção de arte tem a marca do espanhol, com a presença de cores intensas como vermelho, azul e verde, além de figurinos e paredes fortemente estampadas - coisa que normalmente diretores de arte evitam. A trilha-sonora é de Alberto Iglesias, outro grande parceiro, que cria climas de tensão - que em certos momentos lembram a trilha de filmes de Alfred Hitchcock - e acentua o melodrama que caracterizou a carreira de Almodóvar, ainda que aqui esteja mais contido.


Trata-se de apenas mais um filme. Nada que faça falta na filmografia de um cinéfilo e me menos ainda na vida de alguém que procura o cinema por puro entretenimento. Mesmo com tantos problemas, o diretor cerca-se de gente competente, o que faz com que - mesmo nos seus piores trabalhos - resulte em algo razoável.


Talvez já tenha passado da hora de Almodóvar deixar o roteiro de seus filmes para gente especializada no assunto e se dedicar apenas à direção. Isso acontece com a maioria dos cineastas e com os cantores que compões as próprias músicas.

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