Um amigo gigante que cabe no coração
Graciosidade é um marco fundamental em grandes adaptações de contos infantis, servem como inspiração e certo afago em nossa memória. Aliado a isso, temos personagens complexos, delicados e a grandiloquência de Steven Spielberg (Ponte dos Espiões, 2015) em O Bom Gigante Amigo.
A atriz mirim Ruby Barnhill estreia como Sophie, uma órfã sonhadora que reside em um orfanato inglês, sofre de constante insônia e depara-se com um monstro sorrateiro na calada da noite que virá a ser seu grande e único amigo.
Apesar de ter um conteúdo solitário e melancólico de ambos os personagens, afinal a garota é sozinha no mundo e o gigante sofre bullying entre seus conterrâneos devido à sua baixa estatura até mesmo para um gigante.
Mesmo usando o tom provocativo do caçoar tanto do linguajar quanto das orelhas imensas do Gigante (Mark Rylance de O Franco Atirador, 2015), a doce da amizade que cresce entre ambos suaviza esse tom amargo e cativa docemente o espectador. O diretor não recorre à metalinguagem para expor ou levantar questionamentos acerca dos sentimentos dos personagens frente ao bullying, apenas conduz brilhantemente a historia já conhecida do livro homônimo do escritor Roald Dahl. De modo sutil e estarrecedor, Spielberg conduz boa parte do filme apenas com os dois protagonistas.
A menção à rainha (Penélope Wilton de Iris, 2001) em uma sequência hilariante de cenas no palácio e fora dele, a linguagem culta de uma garotinha de oito anos - em contraposição à linguagem engraçada e errada do gigante - garante boas risadas e expectativa para o final do filme.
Há uma singela e discreta homenagem à Dream Works - grande produtora de décadas de Spielberg - em uma cena poética e lúdica que muitos identificaram mesmo que observando de leve.
O Bom Gigante Amigo é um filme sobre valores, amizade, dificuldades mas sobretudo sobre valentia, e certamente muitos irão deixar a sala de cinema com vontade de carregar um gigante desses no bolso.